Mapa de Trincomalee (1775), Sri Lanka. Jean-Baptiste d'Après de Mannevillette, Le Neptune Oriental, 1775
Mapa de Trincomalee (1775), Sri Lanka. Jean-Baptiste d'Après de Mannevillette, Le Neptune Oriental, 1775

Trincomalee: A tentativa francesa

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Escrito por Marco Ramerini. Tradução feita por João Bergmann

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6.0 A TENTATIVA FRANCESA

Um novo perigo ameaçava as possessões holandesas no Ceilão, e ele se materializou em março de 1672, na forma de uma grande frota francesa, sob o comando do almirante De La Haye. No período de 1665 a 1670, guiados por Colbert e com a ajuda de François Caron, um homem de grande experiência e ex-diretor geral da VOC na Ásia, os franceses haviam desenvolvido um plano de expansão para o continente asiático à custa dos holandeses. Deste plano constava a fundação de um importante posto comercial em Trincomalee.

A frota francesa, comandada pelo tenente-general da Índia, Jacob Plaquet de la Haye, lançou velas do porto francês de Rochefort em 29 de março de 1670, e era composta por nove navios, levando a bordo 2250 homens e 251 canhões. Ao chegar à baía de Trincomalee em 22 de março de 1672, a esquadra francesa representava um enorme poderio naval para os mares da Índia.

Em março de 1672, quando da chegada da frota francesa de De La Haye e Caron, os holandeses abandonaram e queimaram seu posto avançado na baía de Kottiyar, cuja guarnição procurou abrigo no forte de Trincomalee. Os holandeses abandonaram 21 canhões no forte destruído. A guarnição holandesa de Trincomalee foi forçada a se defender e permaneceu dentro das muralhas do forte para observar a movimentação dos franceses.

Os franceses escolheram a formosa baía de Trincomalee / Kottiyar como base de suas futuras operações na Ásia. Sob o olhar dos holandeses, protegidos em seu forte de Pagoodsberg, os franceses ocuparam e fortificaram as duas ilhas situadas na entrada da baía: a que eles chamavam de “Isle Du Soleil” (“Dwars-in-de-weg”, ou Ilha do Sol) e a denominada “Caron” (“Compagnies Eyland”), ocupando ainda o posto avançado da baía de Koddiyar. O oficial Boisfontaine, com 30 soldados, foi enviado em seguida à corte de Kandy, na qualidade de embaixador francês. Ele foi bem recebido pelo rei, que desejava poder expulsar os holandeses da ilha, com os quais estava em guerra.

No dia 28 de maio de 1672 os franceses assinaram um tratado com Raja Sinha, através do qual as baías de Trincomalee e Kottiyar eram cedidas pelos cingaleses aos franceses. Na ocasião foram erigidos alguns pilares para delimitar os limites do território cedido. O principal problema para a grande frota francesa era o fornecimento de alimentos. Assim que os franceses se deram conta de que a comida proveniente de Kandy não era suficiente para alimentar um exército tão grande, três navios foram enviados à Índia à procura de suprimentos para solucionar o problema. Poucos dias depois da assinatura do tratado com os cingaleses, a frota holandesa de Van Goens chegou à baía. Com um desembarque em Tambalagama, os holandeses inicialmente tentaram bloquear a linha de suprimentos que vinham do interior para os franceses, mas um ataque imediato das tropas kandyanas forçou Van Goens a retirar seus homens para os navios. Os kandyanos pediram ajuda aos franceses para combater os holandeses conjuntamente, mas aqueles se recusaram, já que estavam formalmente em paz com a Holanda. Esta recusa esfriou bastante o entusiasmo dos cingaleses em relação à expedição francesa.

Os holandeses, porém, desconsideraram a paz com os franceses, e na primeira oportunidade que surgiu, ele atacaram e conseguiram capturar dois dos navios que os franceses haviam enviado à Índia em busca de alimentos, sendo que o terceiro navio foi forçado a retornar. Para as tropas francesas, a situação ficava cada vez mais dramática. Apesar da ajuda de Raja Sinha, doenças e a falta de comida provocaram muitas mortes entre os franceses. Em 9 de julho de 1672, o almirante De La Haye, após ter enviado outro embaixador (De La Nerolle) à corte de Kandy, decidiu partir com toda a frota em busca de socorro, deixando na fortificação da baía uma guarnição de cem homens e dois barcos. Os holandeses não perderam tempo, atacando a guarnição e fazendo com que os franceses entrincheirados no forte se rendessem. Um numeroso contingente de tropas kandyanas chegou a Trincomalee poucos dias depois da partida da frota francesa, mas já era tarde demais. O curto período francês estava encerrado, juntamente com as esperanças kandyanas de expulsar os holandeses da ilha.1

Continua: A consolidação da presença holandesa

Plano de Fort Trincomalee, feita pelo Chevalier de Suffren em agosto 1782

Plano de Fort Trincomalee, feita pelo Chevalier de Suffren em agosto 1782

NOTAS:

1 Em relação ao episódio francês, pode-se consultar: Ames, G. J. “A Portuguese perspective on the emerging French presence in the East ca. 1670”, in: “Studia”, n° 46/1987, págs. 254-286; “History of Sri Lanka”, vol. II, págs. 223-225; Arasaratnam “Dutch power in Ceylon, 1658-1687”, págs. 62-63.

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About Marco Ramerini

I am passionate about history, especially the history of geographical explorations and colonialism.