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África America Ásia Colonialismo português Língua Portuguesa

Os Estados-Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

por Dietrich Köster

Resolução dos Chefes de Estado e de Governo na Cimeira de Díli no dia 23 de julho de 2014

                          (por ordem alfabética) 

1.o  República de Angola / África 

2.o  República Federativa do Brasil / América do Sul 

3.o  República de Cabo Verde / África 

4.o  República da Guiné-Bissau / África 

5.o  República da Guiné Equatorial / África 

6.o  República de Moçambique / África 

7.o  República Portuguesa / Europa 

8.o  República Democrática de São Tomé e Príncipe / África 

9.o República Democrática de Timor-Leste / Ásia 

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Colonialismo Alemão

Windhoek: o Forte alemão Alte Feste

O forte Alte Feste foi fundado em 1890 pelo comandante alemão Kurt von François no dia 18 de outubro do mesmo ano. Ele lançou a pedra fundamental para a construção do forte. Este edifício é um dos edifícios mais antigos da cidade de Windhoek, a capital da Namíbia.

O forte está localizado no alto duma colina com vista para a área central de Windhoek. O forte, que tem uma planta rectangular, mede 62 metros de comprimento e 35 metros de largura. Nos cantos foram construídas quatro torres. As duas torres na parede oriental tem uma altura de 9 metros e as duas na parede ocidental medem 6 metros de altura.

Durante a era colonial alemã o forte Alte Feste foi utilizado como quartel-general da tropa colonial alemã/Schutztruppe até 1915 e depois pela tropa sul-africana. -Em 1935 tornou-se um albergue para a Windhoek High School. O edifício foi declarado monumento nacional em 1957.

A partir de 1962 o edifício do forte alemão abriga o Museu Histórico do Estado, um museu multiuso, que contém informações sobre a história da Namíbia a partir das suas origens – arte dos bosquímanos (san) – para o período colonial e a independência. Dentro do museu estão expostos móveis, esculturas em pedra, instrumentos musicais, cerâmica, objetos da era colonial, recordações e fotografias da luta pela independência da Namíbia, ocorrida em 1990.

Junto ao forte é o monumento equestre, chamado Reiterdenkmal, erguido em 1912 para comemorar os soldados e civis alemães, mortos durante a revolta dos povos Herero e Nama. Estas revoltas ocorreram várias vezes no período entre 1903 e 1908.

Texto português corrigido por Dietrich Köster.

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Colonialismo português Indonesia

Pegada Portuguesa em Paga, Ilha das Flores, Indonésia

Escrito por: Fransisco Soarez Pati – Email: fransisco78@gmail.com
Corrigido por : Jose Luis Forneiro Perez

“Dedico este escrito a todas as pessoas da Regência de Sikka e àqueles que se interessam pela história colonial Portuguesa em todo o mundo”

Paga é um subdistrito do distrito de Sikka, Ilha das Flores, na província de Nusa Tenggara Oriental, Indonésia. Esta área ainda está incluída na região étnica Lio, que faz fronteira com o distrito de Ende, a oeste. A mitologia local conta que Paga vem da palavra “Pagão”, dada pelos portugueses que significa adorar ídolos.

Desde a antiguidade, a pegada portuguesa em Paga só é conhecida através do clã da Costa. Quer ele reconheça quer não, a história da presença colonial portuguesa no distrito de Sikka, ilha das Flores na província de East Nusa Tenggara, na Indonésia, foi dominada por histórias sobre a presença portuguesa em uma pequena cidade chamada Sikka. Em meados de fevereiro de 2014, o site português com sede em Lisboa “Jornal de Noticias” publicou um artigo com o título “Descendentes Do Rei De Sica Querem Museu Para Tesouro Português“. Não sei por que a geração moderna de hoje só imagina se é verdade ou não que a colônia portuguesa deixou sua marca em Paga.

Paga é um território colonial português na parte sul da ilha das Flores, na Indonésia. Na época do apogeu português dos séculos XV a XVII, a maior parte das áreas do arquipélago das Flores que foram influenciadas pelo colonialismo português situavam-se geralmente no lado sul da ilha. A partir da Ilha Solor, Ilha Adonara, Larantuka, Sikka, Paga e Ilha Ende, todas elas são localizadas na área costeira sul do Mar de Savu. Na época, a Ilha do Ende era conhecida como Ilha Grande para substituir Nusa Eru Mbinge como nome original da ilha.

Enquanto isso, no lado norte da ilha das Flores, os portugueses não deixaram vestígios de colonialismo, exceto os nomes Kewa (Queva) e Dondo dados pelos missionários dominicanos no século XVI. No lado norte da ilha das Flores, existia também um local que foi visitado por São Francisco Xavier. Localizado a 12 km de Maumere, acredita-se que o local foi passado de geração em geração como o local onde São Francisco Xavier parou pela primeira vez na ilha das Flores para reabastecimento, que mais tarde ficou conhecido como “Wair Noke Rua”, que significa santo primavera.

A principal razão pela qual os portugueses controlavam a costa sul da Ilha das Flores era porque controlando a costa sul da ilha das Flores podiam facilmente navegar para a ilha de Timor, que era separada apenas pelo mar de Savu, que tinha sândalo branco, produto muito caro no mercado europeu na época.

Vários escritores da história colonial portuguesa como Francisco Vieira de Figuerido, que escreveu o livro “Portugues Merchant Adventure In South East Asia 1624-1667”, Fernando Figuerido com a sua obra “Timor, A Presence Portugesa”, Isabel Boavida com a sua obra “A Presenca Portuguesa No Pasifico. A Missionação, No Preceso Colonial de Timor O E Seu Patrimonio Arqueitecnico Hoje”, ou Hans Hagerdald através da sua obra intitulada “Lord of the Sea, Lord Of the Land, Conflict And Adaptation In Early Colonial Timor, 1600-1800”, quase nunca escreveu histórias sobre a presença dos portugueses em Paga e na ilha de Ende. Um artigo de jornal publicado pela Universidade Nacional Australiana cita o relatório de Visser “Pagando no sudoeste de Kabupaten Sikka e Sikka Natar em si eram os locais de tais estações na costa sul. Embora haja uma vaga tradição entre os contemporâneos de que a sua vila Sikka Natar era o local de uma estação missionária dominicana, como relata Visser, é possível que a vila fosse, se não uma estação dominicana, pelo menos um lugar visitado, mais ou menos regularmente, por dominicanos embarcados nos navios portugueses que passavam pela costa sul das Flores”. Ainda que a história da presença portuguesa na ilha de Timor não possa ser dissociada da presença dos portugueses na ilha das Flores e arredores, mesmo o primeiro centro colonial português nas Flores, Solor e Timor foi na ilha de Solor, na província de East Nusa Tenggara, Indonésia, antes que os portugueses a mudassem para Lifau e em 1769 a mudassem novamente para Díli, que mais tarde se tornou a capital de Timor-Leste. No Paga hoje não há vestígios como o relatado por Visser, exceto um terreno baldio que a população local acreditava ser o local onde a Igreja foi fundada pelos portugueses e assim por diante, sobre o qual se tratará neste artigo.

Para além da ausência de dados do colonialismo português em Paga pelos autores supracitados, se os leitores deste artigo são parentes de sangue, casamento ou amizade ou pelo menos visitaram Paga, então em Paga podemos ver facilmente que alguns populares de Paga hoje têm características físicas diferentes da maioria dos florinianos em geral, portanto é muito provável que sejam descendentes de Portugueses o que não está escrito na história colonial Portuguesa.

A principal razão pela qual os portugueses casaram sempre com mulheres locais na terra colonial foi para criar uma nova pátria após a assinatura portuguesa do Tratado de Tordesilhas em 7 de junho de 1494, um novo acordo de divisão de terras entre os portugueses e Castela (Espanha): as novas terras em português ou las nuevas tierras em espanhol que estarían localizadas fora da Europa. Portugal recebeu a liberdade de controlar completamente todas as regiões fora da Europa ao longo da linha do meridiano da légua 370 através de Cabo Verde, África do Sul a leste, enquanto a Espanha controlava tudo a oeste de Cabo Verde em direção às Américas. Com este tratado os portugueses implementaram uma estratégia política chamada politica de assimilados ou casados através do casamento com mulheres locais ou a filha do rei para que sua presença na terra colonial fosse sentida como uma nova pátria ou recebesse o apoio da comunidade ou do rei local. Um novo fator na composição da população florinés/solores preocupou-se com os portugueses que chegaram a essas águas com a intenção de participar do lucrativo comércio de especiarias, sândalo e escravos. Alguns decidiram se estabelecer em coabitação permanente com meninas escravas casadas com famílias locais. Sob a lei portuguesa, esses colonos eram chamados de casados ​​​​ou moradores, que se tornaram a espinha dorsal do assentamento português, apoiando o comércio português e as atividades missionárias. Segundo a lei portuguesa, eram Portugueses, Cristãos de religião e tinham sobrenome português. Quando os portugueses abandonaram esta área no século XVII e os holandeses fizeram esforços para incorporá-la à sua esfera de atividade, os mestiços desempenharam o papel de intérprete entre os holandeses e a comunidade lusófona local. O Rei de Portugal através da Lei Real Portuguesa de 15 de março de 1538 concedeu uma concessão especial aos homens portugueses que se casassem e se fixassem e cultivassem uma nova pátria (terra nova) fora da Europa, concedendo privilégios aos homens portugueses que realizassem missões no estrangeiro.

Os descendentes do casamento português que usaram a estratégia “politica assimilados o casados” foram posteriormente chamados de Topass ou Mestizo, que significa português negro (português negro), enquanto os holandeses o chamam de português Zwart. A estratégia política portuguesa era muito diferente e com a estratégia política holandesa conhecida como Devide et Impera ou política divisória.

Mateo da Costa e Antony da Hornai da Costa são dois irmãos nascidos do casamento de um cidadão português com uma mulher Larantuka. Estas duas figuras formaram mais tarde um grupo denominado “Larantuqueros”, ou seja, o povo Larantuka, grupo considerado perigoso e temido pelos portugueses e holandeses. Jacob van der Hijden, o comandante das tropas holandesas de Solor e Timor que haviam conquistado o reino de Sonbai, foi morto na ponta da espada de Antony a Hornay da Costa.

Além do clã da Costa, em Paga existe também um túmulo de pedra que na língua Lio é chamado de “Musu Mase” em Paga. Os moradores acreditam há gerações que o túmulo de pedra é onde as cabeças e os corpos de dois portugueses foram enterrados após serem decapitados por Antônio da Costa, um bravo morador local de ascendência portuguesa. Esta geração de Antonio da Costa ou conhecido como Mamo Ndona mais tarde deu à luz o Sr. Daniel Woda Palle, ex-regente de Sikka (1977-1988) e ex-presidente da Assembleia Regional Popular Representativa da Província de Nusa Tenggara Oriental (1999-2004). Além do Sr. Daniel Woda Palle, genealogicamente as gerações de descendentes de Antony da Costa estão agora espalhadas em quase todas as partes da Indonésia.

Além disso, em Paga existe um canhão da herança portuguesa, bem como um lugar na praia que é como o local onde os portugueses pisaram pela primeira vez em Paga e fundaram a Igreja Católica que em termos locais chamavam de “Gereja Manu”. Atualmente, o prédio da Igreja não existe mais, restando apenas um terreno baldio no antigo prédio da igreja. A dança Bobu como dança influenciada pelos portugueses ainda hoje é mantida pelos pagãos. A descrição acima é a situação de fato de que Paga é um território colonial português esquecido.

Entretanto, de jure num documento denominado Tratado Demarcação E Troca De Alguns Possessoes Portugueses E Neerlandezas No Archipelago De Solor E Timor que significa Acordo sobre a demarcação e troca de vários proprietários portugueses e holandeses nas ilhas Solor e Timor assinado por Dom Pedro V e Mauricio Helderwier em 20 de abril de 1859, a área de Paga juntamente com Sikka, Larantuka, Wureh na ilha de Adonara, Pamong Kaju na ilha de Solor, Lomblen, Alor e Pantar foram regulamentados no artigo 7 do acordo a ser entregue pelos portugueses aos holandeses.

O texto original do acordo, que estava em português, tem a seguinte redação:

Artigo 7

Portugal cede à Neerlândia com os seguintes proprietários:

Na ilha das Flores, os estados de Larantuca, Sicca e Paga com suas dependências; na ilha de Adonara, ou estado de Wureh, na ilha do Solor, ou estado de Pamang Kaju.

Portugal renuncia a todas as pretensões que porventura possam ser válidas sobre outros estados ou logares, situados nas referidas ilhas, ou em Lomblen, Pantar e Ombay, que estes estados usem a bandeira portuguesa, quer da neer.

Em vez disso, em outras disposições do acordo, os portugueses receberam o direito de controlar todo o território de Timor Leste (atual Timor Leste), Oecuse e a Ilha de Kambing (Ilha de Atauro), conhecida como Ilha de Ataúro. A compensação total dada pelos holandeses aos portugueses foi de 200.000 florins (antiga moeda holandesa) no valor de 80.000 florins dados em 1851, quando os portugueses ficaram sem dinheiro depois de mudar seu centro de poder de Lifau para Díli em 1769. o centro colonial português pela segunda vez, após a derrota dos Portugueses na Ilha Solor com o grupo Solor Watan Lema ou cinco áreas costeiras (Negeri Lima Pantai), nomeadamente Lohayong, Lamakera, Lamahala, Terong e Labala que receberam assistência das tropas holandesas e do Sultanato de Ternate nas Molucas do Norte.

Entretanto, os restantes 120.000 florins foram entregues um mês após a assinatura do tratado de 1859 em Lisboa. No momento das negociações, o parlamento holandês se opôs porque não havia nenhum artigo que dava aos holandeses a liberdade de realizar uma missão protestante (Zendeling), mas os portugueses permaneceram em sua posição de que o catolicismo que tinha sido introduzido ao povo das Flores e arredores deveria continuar a ser a religião do povo (religiao do comunitae).

Segundo Karel Steenbrink no seu livro The Indonesian Catholics Volume I, a editora de Ledalero, Maumere (Orang-Orang Katolik Di Indonesia, Jilid I, penerbit Ledalero, Maumere), afirmou o princípio português de que “a bandeira pode ser mudada, mas a religião não deve ser alterada. O católico romano deve ser preservado como antes.” Esta é a razão pela qual a maioria das pessoas na Ilha das Flores, incluindo Paga na província de East Nusa Tenggara, na Indonésia, seguem a religião católica até agora. Na opinião do autor, embora o título do acordo seja um acordo sobre a troca e demarcação de territórios coloniais, mas no contexto do direito dos tratados internacionais, o acordo entre as duas nações coloniais é mais precisamente referido como um acordo de compra e venda do território colonial.

Como conclusão deste trabalho, refira-se que, nessa altura, Portugal era governado por um rei de nome Fernando II (1837 a 1853). Ele então nomeou José Joaquim Lopes de Lima como governador de uma colônia portuguesa separada no exterior de 3 de junho de 1851 a 15 de setembro de 1851. José Joaquim Lopes de Lima foi então nomeado governador dos portugueses em Macau a partir de 15 de setembro de 1851 encarregado de todo o território de Timor, Flores, Solor, Adonara, Alor e Atauro. O seu cargo de governador português em Macau não durou muito porque faleceu a 8 de Setembro de 1852 em Macau. Existe uma forte suspeita de que a morte de José Joaquim Lopes de Lima em 1852 esteja intimamente relacionada com a sua traição ao Rei de Portugal, que em 1851, sem o consentimento do Rei, ele se aliou aos holandeses no processo de “negociação” em questão. sobre as colónias portuguesas incluindo Paga.

Esta é a raiz histórica de Paga, Sikka, Larantuka, Ilha das Flores, Adonara, Solor, Alor, Pantar e Timor Ocidental tornando-se territórios coloniais holandeses. De acordo com o princípio uti posidetis iuris do direito internacional, essas regiões agora pertencem ao território do Estado Unitário da República da Indonésia (NKRI). Enquanto na parte oriental da ilha de Timor, Oecusse e a ilha de Ataúro tornaram-se territórios portugueses e agora essas regiões pertencem ao território da República Democrática de Timor Leste.

BIBLIOGRAFÍA:

Tratado Demarcação E Troca De Alguns Possessoes Portugueses E Neerlandezas No Archipelago De Solor E Timor, 20 de Abril de 1859

P. Sareng Orinbao, SVD, Nusa Nipa, Nama Pribumi Pulau Flores (Warisan Purba), Nusa Indah, Ende, 1969

Francisco Vieira de Figuierido, A Portugues Merchant Adventure In South East Asia 1624-1667, Verhandelingen Van Het Koninklijk Instituut Voor Taal – Land En Volkenkunde, Deel 52, C.R Boxer

Fernando Augusto de Figuerido, Timor, A Presence Portugesa (1769-1945), Universida Do Porto, Faculdade De Letras, 2004

Isabel Boavida, A Presenca Portuguesa No Pasifico. A Missionação, No Preceso Colonial de Timor O E Seu Patrimonio Arqueitecnico Hoje, Universidad de Coimbra

Hans Hagerdal, Lord of the Sea, Lord Of the Land, Conflict And Adaptation In Early Colonial Timor, 1600-1800, Verhandelingen Van Het Koninklijk Instituut Voor Taal – Land En Volkenkunde, KITLV

Paramitha A. Abdurachman, Bunga Angin Portugis di Nusantara, Jejak-Jejak Kebudayaan Portugis Di Indonesia, LIPI Press, Jakarta, 2008, Yayasan Obor, Subtitles Atakiwan, Casados, And Tupassi: Portuguese Settlement And Christian Communities In Solor And Flores (1536-1630), Indonesian Society Magazine, Year – X, No. 1, 1983

António d’Oliveira Pinto da França, Pengaruh Portugis Di Indonesia, Cetakan Pertama, PT. Penebar Swadaya, , 2000, translated by Pericles Katoppo from the original book entitled “Portuguese Influenced in Indonesia”, Calouste Gulbenkian Foundation, Lisabon, 1985

Pelayaran Dan Perdagangan Kawasan Laut Sawu, Awal Abad-18, Awal Abad-20, Didik Pradjoko & Friska Indah Kartika, Wedatama Widya Sastra, 2014.

Escrito por: Fransisco Soarez Pati – Email: fransisco78@gmail.com
Corrigido por : Jose Luis Forneiro Perez

Grave stone, is believed to be the burial place of 2 Portuguese people who were beheaded by Anthony Da Costa or Mamo Ndona. Photo Fransisco Soarez Pati, S.H,
Lápide, acredita-se que seja o local de sepultamento de 2 portugueses que foram decapitados por Anthony Da Costa ou Mamo Ndona. Photo Fransisco Soarez Pati, S.H,
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África Colonialismo português Guiné-Bissau São Tomé e Príncipe

Lista de Termos geográficos antigos na Guiné-Bissau e em São Tomé e Príncipe e as Designações correspondentes introduzidas após a Independência

por Dietrich Köster, Bonn 

Guiné-Bissau

Antes da Independência Após a Independência no dia 10 de Setembro de 1974

Aldeia Formosa = Quebo
Colona do Norte = Cuntima
Duas Fontes = Bangacia
Nova Lamego = Gabú
Teixeira Pinto = Canchungo

São Tomé e Príncipe

Antes da Independência Após a Independência no dia 12 de Julho de 1975

Ilhéu de Gago Coutinho = Ilhéu das Rólas
Pico Gago Coutinho = Pico de São Tomé

Desconhece-se que existam quaisquer mudanças de nomes de designações geográficas de Cabo Verde.

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África Angola Colonialismo português

Lista de Termos geográficos antigos em Angola e as Designações correspondentes após o 11 de Novembro de 1975

por Dietrich Köster, Bonn 

Guilherme Capelo = Cacongo (Cabinda)

Ambrizete = N’Zeto (Zaire)
Padrão de Diogo Cão = Ponta do Padrão (Zaire)
Santo António do Zaire = Soyo (Zaire)
São Salvador do Congo = M’Banza Congo (Zaire)

Carmona = Uíge (Uíge)

General Freire = Mucaluando (Bengo)

Quilombo dos Dembos = Gonguembo (Kuanza Norte)
Salazar = N’Dalatando (Kuanza Norte)
São Pedro da Quilemba = Quilemba (Kuanza Norte)

Duque de Bragança = Calandula (Malanje)
Forte República = Massango (Malanje)
Malange = Malanje (Malanje)
Nova Gaia = Cambundi-Catembo (Malanje)
Quedas do Duque de Bragança = Quedas do Calandula (Malanje)

5 de Outubro = Ca-Muteba (Lunda Norte)
Portugália = Chitato (Lunda Norte)
Veríssimo Sarmento = Camissongo (Lunda Norte)

Henrique de Carvalho = Saurimo (Lunda Sul)
Nova Chaves = Muconda (Lunda Sul)

Novo Redondo = Sumbe (Kuanza Sul)
Santa Comba Dão = Waku-Kungo (Kuanza Sul)
Vila Nova do Seles = Uku (Kuanza-Sul)

Barragem Craveiro Lopes = Barragem do Biópio (Benguela)
Mariano Machado = Ganda (Benguela)
Norton de Matos = Balombo (Benguela)
Sousa Lara = Bocoio (Benguela)

Alto Hama = Wama (Huambo)
Bela Vista = Katchiungo (Huambo)
Nova Lisboa = Huambo (Huambo)
Robert Williams = Caála (Huambo)
Teixeira da Silva = Bailundo (Huambo)
Vila Flor = Ekunha (Huambo)

General Machado = Camacupa (Bié)
Neves Ferreira = Cuemba (Bié)
Nova Sintra = Catabola (Bié)
Silva Porto = Kuito (Bié)
Vila de Macedo de Cavaleiros = Andulo (Bié)

Forte Cameias = Cameias (Moxico)
Gago Coutinho = Lumbala N’Guimbo (Moxico)
Luso = Luena (Moxico)
Teixeira de Sousa = Luau (Moxico)
Vila de Aljustrel = Vangamba (Moxico)

Baía de Moçâmedes = Baía de Namibe (Namibe)
Moçâmedes = Namibe (1985-2016) (Namibe)
Porto Alexandre = Tómbua (Namibe)
Reserva de Moçâmedes = Reserva de Namibe (Namibe)
São Nicolau = Bentiaba (Namibe)
Vila Arriaga = Bibala (Namibe)

Algés-a-Nova = Matála (Huíla)
Artur de Paiva = Cubango (Huíla)
Barragem Salazar = Barragem de Matala (Huíla)
Folgares = Capelongo (Huíla)
João de Almeida = Chibia (Huíla)
Olivença-a-Nova = Capunda-Cavilongo (Huíla)
Paiva Couceiro = Kipungo (Huíla)
Sá da Bandeira = Lubango (Huíla)
Vila da Ponte = Kuvango (Huíla)

Pereira de Eça = Ondjiva (Kunene)
Roçadas = Xangongo (Kunene)
Santa Clara = Ombadja (Kunene)
Vila de Aviz = Oncócua (Kunene)

Serpa Pinto = Menongue (Kuando Kubango)

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África Colonialismo português Moçambique

Moçambique: Lista de Termos geográficos antigos e as Designações correspondentes introduzidas após o 25 de Junho de 1975

por Dietrich Köster

Augusto Cardoso = Metangula (Niassa)
Belém = Mitande (Niassa)
Correia = Etatara (Niassa)
Dias = Mbemba (Niassa)
Esperança = Malanga (Niassa)
Homem = Chimbonila (Niassa)
Miranda = Macaloge (Niassa)
Nova Beira = Nairrubi (Niassa)
Nova Coimbra = Mechumua (Niassa)
Nova Freixo = Cuamba (Niassa)
Nova Guarda = Cholue (Niassa)
Nova Santarém = Nambilange (Niassa)
Nova Viseu = M’telela (Niassa)
Olivença = Lupilichi (Niassa)
Porto Arroio = Meponda (Niassa)
Valadim = Mavago (Niassa)
Vila Cabral = Lichinga (Niassa)
Vila Nova de Montalegre = Chiconono (Niassa)

Baía de Porto Amélia = Baía de Pemba (Cabo Delgado)
Porto Amélia = Pemba (Cabo Delgado)

António Enes = Angoche (Nampula)
Baía de Fernão Veloso = Baía de Nacala (Nampula)
Entre Rios = Malema (Nampula)
Nova Chaves = Rapale (Nampula)

Vila Junqueiro = Gurúè (Zambézia)

Bragança = Colomue (Tete)
Comandante Brito = Domue (Tete)
Dona Ana = Mutarara (Tete)
Gago Coutinho = Mulawera (Tete)
Vila Caldas Xavier = Kambulatsisi (Tete)
Vila Coutinho = Ulongué (Tete)
Vila Gamito = Mualadze (Tete)
Vila Vasco da Gama = Chiputo (Tete)

Nova Sintra = Macate (Manica)
Vila Gouveia = Catandica (Manica)
Vila de Vidigueira = Sussindenga (Manica)
Vila Pery = Chimoio (Manica)

Lacerdónia = Chupunga (Sofala)
Nova Lusitania = Buzi (Sofala)
Vila Fontes = Caia (Sofala)
Vila Machado = Nhamatanda (Sofala)
Vila Paiva de Amdrade = Gorongosa (Sofala)

Bartolomei Dias = Govuru (Inhambane)
Ilha de Santa Carolina = Ilha do Paraíso (Inhambane)
Ilha de Santa Isabel = Ilha de Magaruque (Inhambane)
Ilha de Santo António = Ilha de Benguerra (Inhambane)
Marrão = Mavayela (Inhambane)
Ponta São Sebastião = Ponta Khehuene (Inhambane)
Vila Franca do Save = Save (Imhambane)
Vilanculos = Vilankulo (Inhambane)

Aldeia da Barragem = Macarretane (Gaza)
Aldeia da Madragoa = Xilembene (Gaza)
Barra do Limpopo = Zongoene (Gaza)
João Belo = Xai-Xai (Gaza)
Malvérnia = Eduardo Mondlane (Gaza)
Santa Comba = Malahzene (Gaza)
São Jorge do Limpopo = Mapai-Estação (Gaza)
São Martinho do Bilene = Praia do Bilene (Gaza)
Vila Alferes Chamusca = Caniçado (Gaza)
Vila Gomes da Costa = Alto Changane (Gaza)
Vila Pinto Teixeira = Mabalane (Gaza)
Vila Trigo de Morais = Chokwe (Gaza)

Baía de Espírito Santo = Baía de Maputo (Maputo)
Baía de Lourenço Marques = Baía de Maputo (Maputo)
Ilha Mariana = Ilha Josina Machel (Maputo)
Lourenço Marques = 1975/76: Cam Phumo, depois Maputo (Maputo Cidade)
Vila Luísa = Marracuene (Maputo)
Vila Salazar/Salazar = Matola (Maputo)

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Colonialismo português Indonesia Timor-Leste

Lista de Termos geográficos em Timor-Leste antes e depois da Ocupação pela Indonésia em Dezembro de 1975

por Dietrich Köster, Bonn

Arcos – Cassa
Atalaia – Atabae
Belas – Ossu
Bela Vista – Quelicai
Caxias do Extremo – Batugade
Leça – Uato-Lari
Mindelo – Maubisse
Nova Algés – Tibar
Nova Anandia – Fati-Berliu
Nova Âncora – Laivai
Nova Benfica – Uato Ca
Nova Caminha – Fatu Maquetec
Nova Gouveia – Fohorem
Nova Monchique – Fatululik
Nova Nazaré – Mehara
Nova Óbidos – Letefoho
Nova Ourém – Atsabe
Nova Portel – Caimac
Nova Sagres – Tutuala
Novo Luso – Hato-Udo
Oliveira – Fatumean
Silvícola – Loré
Valverde – Nuno-Heno
Vila Armindo Monteiro – Bobonaro
Vila de Aviz – Fuiloro
Vila Celestino da Silva – Hatolia
Vila Eduardo Marques – Bazartete
Vila Filomeno da Câmara – Same
Vila General Carmona – Aileu
Vila Nova de Malaca – Lautém
Vila de Ourique – Laclubar
Vila Salazar – Baucau
Vila Taveiro – Pante Macassar
Vila Viçosa – Venilale
Viriato – Hato-Builico

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Colonialismo português Timor-Leste

Timor-Leste independente após quase quinhentos anos de domínio estrangeiro

por Dietrich Köster, Bona

Díli (Timor-Leste), 20 de Maio de 2002

Em Díli (Timor-Leste) a bandeira das Nações Unidas foi arreada hoje às 00.05 e a da República Democrática de Timor Lorosae foi hasteada às 00.25 pela primeira vez, na presença do Secretário Geral da ONU, do Presidente português, dos Primeiros Ministros português e australiano e de muitos outros membros de governo do mundo inteiro. Assim terminam mais de 450 anos de domínio colonial português, 24 anos de cruel ocupação indonésia e dois anos e meio de administração das Nações Unidas. Estas tiveram a tarefa ingrata de remediar os maiores danos provocados pela campanha indonésia de terra queimada, depois da Consulta Popular de 30 de Agosto de 1999, na qual quase 80% da população de Timor-Leste se tinha pronunciado por uma independência fora do domínio da Indonésia. Simultaneamente a administração da ONU tinha a missão de preparar Timor-Leste para a independência.

A Presidente indonésia Megawati Sukarnoputri, filha do Presidente fundador do Estado indonésio, ficou apenas quatro horas em Timor-Leste e assistiu às celebrações da independência só duas horas. Em contrapartida, fez-se notar o seu aparato de segurança de seis navios de guerra, dois caça-jactos como escolta aérea e 2 000 soldados dos três ramos das forças armadas como protecção pessoal, numa última medida de intimidação e demonstração de poder perante o povo leste-timorense.

Com a retirada da maior parte das forças civis especializadas e a passagem da Administração de Transição das Nações Unidas (UNMISET) avizinham-se tempos difíceis para os timorenses responsáveis pela política e administração dado que lhes falta experiência na gerência do aparelho do Estado. A execução das medidas é agravada pelo facto que não estar só em causa o desenvolvimento da parte oriental da ilha de Timor, mas prioritariamente, a posterior reconstrução das infra-estruturas destruídas após a partida das tropas indonésias e das milícias por elas formadas.

Na sua qualidade de Presidente eleito pelo povo governa agora o antigo combatente da resistência José Alexandre Xanana Gusmão (aqui visto como o Mandela de Timor-Leste) e as funções de Primeiro-Ministro são desempenhadas por Mari Alkatiri, que viveu 20 anos no exílio em Moçambique e que chefia o partido maioritário da FRETILIN. Como Parlamento Nacional actua a Assembleia Constituinte saída das eleições de 30 de Agosto do ano passado.

Do ponto de vista financeiro Timor-Leste continuará a depender extensamente, durante os próximos três anos, das contribuições da comunidade doadora internacional. Depois o país espera poder obter grandes lucros das receitas da extracção, conjunta com a Austrália, de petróleo e gás natural no Mar de Timor.

Publicado na “Allgemeine Zeitung” (Vinduque/Windhoek, Namíbia) no dia 21 de Maio de 2002

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Colonialismo português Timor-Leste

A historia da Tranqueira de Díli, (Timor-Leste)

Por: Juan Carlos Rey (Asociacion Española de Estudios del Pacifico)

A capital do território colonial português de Timor mudou de Lifao, em no territorio de Oecussi, para Díli no ano 1769. Naquela altura, Díli era uma pequena aldeia com casas de barro e palapa com telhados de folhas de palmeira e “talimatan” (nome, em lingua tetúm, da palha local de cor preta) como as que ainda hoje existem nas áreas rurais do pais. Um trabalho intitulado “As Possessões Portuguesas na Oceânia – Descrição da Praca de Dili”, do autor José Joaquim de Sousa, faz a seguinte descrição da praça em no ano 1800: “ A praça é um terreno cercado de palapas…… dentro d’este cerco, da parte do mar, esta a Tranqueira, cujas muralhas são de pedra solta bruta, posta uma sobre a outra, a face que cae para o mar tem dois muros da mesma qualidade, distante um do outro entre elles um entulho de terra e pedra, e onde estão as peças muito velhas e differentes calibres”.
Por decreto de Setembro de 1865 a praça de Díli foi elevada à categoria de cidade, e naquela mesma altura, na zona costeira as construções também se limitavam a uma Igreja, a casa do administrador (bungalow), o edifício da alfândega e uma fortaleza de barro e madeira, chamada Tranqueira o Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição.

O centro desta incipiente cidade era onde agora se encontra o Palacio de Governo (só erigido em 1960) e a frente tenha um pequeno cais de desembarque para descarregar os navios ancorados em frente, onde havia uma bateria de costa para defesa da posição, que ainda hoje se conserva o lugar com antigos canhões olhando o horizonte.

Bateria de costa, Díli. Foto JC REY
Bateria de costa, Díli. Foto JC REY

Numa ilustração, quase de criança, em perpectiva da baía de Díli, desenhada pelo tenente Botelho, da Armada Real, aparece a mencionada fortaleza da Tranqueira, assim como outras edificações próximas, como uma igreja, a alfândega e a feitoria do navio que fazia a ligação com Macau. A estampa mostra a Tranqueira com un muro de pedras e, no interior, uma esplanada avançada para leste onde se encontrava o mastro da bandeira portuguesa da época. Uma bateria de canhões a pontava para o mar, dando proteção ao ancoradouro. A residência do Governador estava na parte interna interna do reciento da Tranqueira. No mesmo desenho podem ser vistas algumas casas para leste, onde hoje está a Secretaria de Estado da Juventude e Desporto, bem como o “ilhote de Pedra” que ainda presentemente se distingue frente à atual resindência do obispo de Díli.

Tranqueira de Díli
Tranqueira de Díli

O incansável naturalista inglês Wallace Russel, que viajou durante mais de nove anos (1854-1862) pela região dio sudeste asiático e visitou “Delli” – a capital das possessões portuguesas do nordeste em 1861 – faz uma descripção da praça no seu livro “Viajem pelo Arquipelago malayo”, em que diz: “O seu forte é um simple recinto de terra endurecida”.
Asim a primeira fortaleza propiamente dita, construida em Díli em 1769, foi chamada Tranqueira, que conheceu importantes modificações com o passagem do tempo. Uma nova descrição da praça de Díli, feita por Affonso de Castro em 1861, e publicada em 1865 na Gazeta das Fábricas, volume II pagina 119 : “À direita està a casa que serve de alfândega e à esquerda (mirando do parte do mar) està a fortaleza, ou Tranqueira, com as suas onze velhas peças montadas sobre bases que se estão a desfazer. Não se á porém imaginar que a tal Tranqueira tem alguma coisa de forte. Não, a Tranqueira não passa de ser um grande rectângulo, com três faces de muralha de pedra solta e a quarta que olha para o mar, é um terrapleno sem revestimento, sobre o qual estão collocadas as peças sem deffeza de qualidade alguma e inteiramente a descoberto”.

Cem anos depois do inicio da construção da primeira Tranqueira e no mesmo lugar, a fortaleza mudou-se no Quartel de Infanteria em 1869, depois em Quartel de Artilleria e finalmente em 1960’s mudou para Quartel de Intendencia. A Tranqueira apresentava então uma planta melhorada, de acordo com uma verdadeira fortaleza em comparação com ao desenho do feito à mao pelo 1º tenente da Armada Botelho 74 anos antes. O quartel de Infanteria tem semelhança com outros edificios militares portugueses nos territórios do ultramar construidos na segunda parte do século XIX.

O primeiro mapa em que se pode apreciar a recente construçao de antigo quartel data de 1870 e a planta do edificio é exactamente a que é na actualidade o mesmo predio. Francisco Sousa Lobo, que trabalhou como perito da UNESCO diz que se trata de “um edificio de arquitectura neoclasica, muito sóbrio e de grande disgnidade”.

Tranqueira de Díli, 1843
Tranqueira de Díli, 1843

Plano do porto e cidade de Díli. Mapa Andrea e Machado 1870
Plano do porto e cidade de Díli. Mapa Andrea e Machado 1870

Plano da cidade de Díli. Mapa 1895
Plano da cidade de Díli. Mapa 1895

Planta do antigo Quartel de infantaria de Díli, 1895
Planta do antigo Quartel de infantaria de Díli, 1895

Quartel de infantaria de Díli. Mapa 1910
Quartel de infantaria de Díli. Mapa 1910

Durante a II Guerra Mundial, a ilha de Timor foi ocupada pelos japoneses, e a maior parte de Díli foi destruida por bombardeamentos aliados mais miraculosamente nenhuma bomba caiu no Quartel de Infanteria. Apesar de que alguns impactes foram muito próximos, no mar, a escassamente 100 metros do edificio. Uma fotografia aérea do 02-11-1942 (Australia War Memorial negatif nº 128133) mostra os impactes e explosões na baía de Díli. O edificio saiu incólume da contenda o mesmo que acontecio com o Pálacio de Lahane, as duas construções coloniais mais antigas que subsistem em Díli.

Díli durante a Secunda Guerra Mundial
Díli durante a Secunda Guerra Mundial

Quartel intendencia de Díli. 1930
Quartel intendencia de Díli. 1930

Quartel de Intendencia Entrada pela avenida Sá de Bandeira. 1964
Quartel de Intendencia Entrada pela avenida Sá de Bandeira. 1964

Durante a época da ocupação Indonesia (1975-1999), a antiga fortaleza da Tranqueira convertido em edificio do quartel de Infanteria portuguesa, foi utilizado pelos militares indonesios e mais precisamente pela companhia nº 1627. Para muitos timorenses o edificio ficou com a sinistra memoria de centro de internamento e interrogatórios do sistema repressivo militar dos ocupantes indonesios.

Quartel de Infanteria portuguesa, utilizado pelos militares indonesios e mais precisamente pela companhia nº 1627. Foto JC Rey
Quartel de Infanteria portuguesa, utilizado pelos militares indonesios e mais precisamente pela companhia nº 1627. Foto JC Rey

A saída da Indonesia em 1999, na esteira da Consulta popular o referendo da independência, deixou uma maré de destruição nas infraestructuras de Timor-Leste, nomeadamente o edificio do antigo quartel foi incendiado propositadamente pelas milicias indonesias. O fogo quimou o tecto, mas por sorte a madeira da época resistiu; a parte baixa fico menos danificada do que as partes superiores dos muros. O fogo destruiu as portas e janelas, escapando intacta apenas uma que seria utilizada como mostra para a reprodução das restantes na renovação do prédio entre 1999 e 2002.

Quartel de Infanteria portuguesa. Foto Gertil
Quartel de Infanteria portuguesa. Foto Gertil

Com a resolucão 1272 do Conselho de Segurança das Naçoes Unidas foi criada a Administração Transitória da ONU em Timor-Leste (UNTAET, siglas em inglês) que teve entre as suas tarefas a preparação das bases da nova nação. Uma das atividades foi a reconstrução de algumas infra-estruturas básicas. Criou-se a Trust Fund for East Timor (TFET) en Dezembro de 1999 em Tóquio, Japão, com contribuições dos parceiros: Japão, Australia, USA, Portugal, Uniaão Europeia, agências da ONU, Banco Mundial e ADB. Estes dois últimos ficarom com a gestão do fundo.

O projecto de reconstrução integrou-se no programa Community Empowerment Projet, com o alvo de renovação do antigo quartel como futura Uma Fukum o casa do Povo, en língua Tetum, para albergar o Centro da Cultura Nacional o Museu Nacional, e também, uma galeria de arte. O projecto de reconstruçao da Casa do Povo com uma área de 2.443 metros quadrados foi gerido pelo Banco Mundial, com a colaboraçao da UNESCO e do grupo de engenharia Gertil, com um orçamento de 0,8 milhões de dólares americanos.

Como descrito num artigo de ingenheiro Francisco Sousa Lobo (De Pedra & Cal n° 15 Julho/septembro 2002): “ O edificio actual foi feito em alverania de pedra muito diversa, rebocado com argamasa de cal e areia, e decorado com frisos e nervuras feitas em tijolo cozido, também revestido com argamasa. Nas paredes há elementos en calcáreo, basalto, xistos e pedras de coral das mas variadas formas e dimensões. As fundações do quartel foram justapostas à segunda versão da fortaleza com mão de mestre, para que o esforço de construcão fosse muitro reduzido. A mas plausível conclução é a de que a maioria do material de construção foi proveniente da antiga Tranqueira “. Mais à frente, diz que: “ a dimensão e forma desta praça serviram de matriz à cidade de Díli, e determinaram o alinhamento das ruas e o tamanho dos quarteirões, na grande remodelação que foi feita por volta de 1840”.

O grupo de engenharia portugês Gertil, entre 1999 e 2002 efectuou um studo muito completo da desastrosa situação em que ficou o antigo edificio. O estudo mostrou que caixilhos originais das janelas eram de madeira de palmeira e que as cores das paredes mudaram com as épocas do banco ao azul. Foi interessante constatar que o edificio do quartel foi cosntruido com un muro duplo, deixando entre o primeiro e o segundo muro uma câmara-de-ar para refrigeração da parte interna. Uma série de aberturas circulares, que ainda existem na actualidade, ventilavan a parte do telhado.

A exposiçao intitulada “Historia da Uma Fukum e a Cidade de Díli” realizada a 15 de maio de 2002 pela UNESCO, com a participação do Instituto Camõens e da Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos, mostrou documentos e fotografias interessantes da história do edificio atual, designadamente uma de 1870 com grandes árvores na actual Avenida Nicolas Lobato (antiga rua do Commercio).

Díli, Rua do Commercio em 1870
Díli, Rua do Commercio em 1870

O projecto de reconstrução empreendido com fundos geridos pelo Banco Mundial nunca foi acabado e as obras seriam suspensas en Agosto de 2002 por falta de fundos.

Em 2002, o edifício parcialmente restaurado, foi entregado ao recém-criado Governo de Timor-Leste, ficando infelizmente sem qualqer segurança e protecção. Un relatorio da UNESCO (Final Report. UNESCO. Timor Leste Cultural Heritage Conservation project. Project Code 217GLO4070 december 2006) diz: “If the building is not put in use immediately, the project of Cultural Center is in risk”. Esta frase do perito Francisco Sousa Lobo foi uma premonição do que aconteceu depois. Entre a 2003 e os acontecimentos trágicos de 2006 o edificio ficou ao abandono e tudo o que era de roubar, foi roubado: portas, janelas e portadas, cabos eléctricos, canalizações, etc…. .
En 2007 o Banco Nacional Ultramarino desevolveu um projecto para uma mediateca, destinada aos jovens, com aulas de informática e biblioteca, mas nunca viu a luz do dia porque o 24 de Novembro desse mismo ano o edificio, en forte estado de deterioração, seria entregue pelo Governo de Timor-Leste à Comissão Europeia para ser a sede diplomática da Delegação da União Europeia em Timor-Leste. Depois de um ano o edificio foi renovado completamente com a preservação e uma visão fiel do seu estado original do antigo quartel e inagurado com una nova vida a 24 de Novembro do 2008, como uma contribução para a preservação do patrimonio colonial de Timor-Leste, depois de umos 240 anos da construção da Tranqueira original de Dili.

Outras referenças:
1) A estoration and rehabilitation of the oldest building in Dili / Francisco Sousa Lobo. -Timor: [s.n.],2000. – 18, 30, [9] p.
2) Reconstruction Survey, Timor Leste 2007. Report Authors : Joao Saldanha; Marcelino Magno; Anacleto Ribeiro; Edmundo Viegas. Timor Institute of Development Studies. 2007.
3) 1er encontro international patrimonio mundial da oriegen portuguesa, abril 2006, Rui Brito de Fonseca.

Copyright: Juan Carlos Rey

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Angola Brasil Colonialismo português Língua Portuguesa Moçambique São Tomé e Príncipe Timor-Leste

Os Estados-Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Os Estados-Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Resolução dos Chefes de Estado e de Governo na Cimeira de Díli no dia 23 de julho de 2014

(por ordem alfabética portuguesa)

Por Dietrich Köster.

1. República de Angola / África
Republik Angola / Afrika
Republic of Angola / Africa
République d’Angola / Afrique
República de Angola / África
Repubblica dell’Angola / Africa
Republiek van Angola / Afrika

2. República Federativa do Brasil / América do Sul
Föderative Republik Brasilien / Südamerika
Federal Republic of Brazil / South America
République fédérative du Brésil / Amérique du Sud
República Federativa del Brasil / América del Sur
Repubblica Federativa del Brasile / America del Sud
Federale Republiek van Brasilië / Suid-Amerika

3. República de Cabo Verde / África
Republik Cabo Verde / Afrika
Republic of Cabo Verde / Africa
République de Cabo Verde / Afrique
República de Cabo Verde / África
Repubblica di Capo Verde / Africa
Republiek van Kaap Verde / Afrika

4. República da Guiné-Bissau / África
Republik Guinea-Bissau / Afrika
Republic of Guinea-Bissau / Africa
République de Guinée-Bissau / Afrique
República de Guinea-Bisáu / África
Repubblica di Guinea-Bissau / Africa
Republiek van Guinee-Bissau / Afrika

5. República da Guiné Equatorial / África
Republik Äquatorialguinea / Afrika
Republic of Equatorial Guinea / Africa
République de la Guinée équatoriale / Afrique
República de Guinea Ecuatorial / África
Repubblica della Guinea Equatoriale / Africa
Republiek van Ekwatoriaal-Guinee / Afrika

6. República de Moçambique / África
Republik Mosambik / Afrika
Republic of Mozambique / Africa
République du Mozambique / Afrique
República de Mozambique / África
Repubblica del Mozambico / Africa
Republiek van Mosambiek / Afrika

7. República Portuguesa / Europa
Portugiesische Republik / Europa
Portuguese Republic / Europe
République portugaise / Europe
República Portuguesa / Europa
Repubblica Portoghese / Europa
Portugese Republiek / Europa

8. República Democrática de São Tomé e Príncipe / África
Demokratische Republik São Tomé und Príncipe / Afrika
Democratic Republic of São Tomé and Príncipe / Africa
République démocratique de São Tomé-et-Príncipe / Afrique
República Democrática de Santo Tomé y Príncipe / África
Repubblica Democratica di São Tomé e Príncipe / Africa
Demokratiese Republiek van São Tomé en Príncipe / Afrika

9. República Democrática de Timor-Leste / Ásia
Demokratische Republik Timor-Leste (Osttimor) / Asien
Democratic Republic of Timor-Leste (East Timor) / Asia
République démocratique du Timor oriental / Asie
República Democrática de Timor Oriental / Asia
Repubblica Democratica di Timor Est / Asia
Demokratiese Republiek van Oos-Timor / Asië

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Colonialismo português Índia Língua Portuguesa Macau Timor-Leste

O Papel da Língua portuguesa na Ásia lusófona

Escrito por Dietrich Köster

Estado Português da Índia – Goa, Diu e Damão

Até a invasão das tropas de Nehru em Dezembro de 1961 o português era a língua oficial. Esta situação mudou a favor do inglês após a anexação. As línguas autóctones Concani em Goa e Gujerati em Damão e Diu desempenham um papel secundário na vida pública. Mesmo em Goa durante o Estado da Índia Portuguesa existiam mais escolas de ensino médio com o inglês como língua de instrução que escolas com o português como língua de ensino. Desde a anexação de Goa o português é oferecido apenas em algumas escolas como uma matéria de segunda ou terceira língua.

O último diário publicado em língua portuguesa transformou-se no início de 1984 num jornal de língua inglesa por completo. Assim “O Heraldo” tornou-se em “Herald”. O diário “A Vida” cessou de aparecer completamente. Hoje existem somente jornais em línguas inglesa e indiana. A única leitura em português que eu pude comprar numa livraria foi uma série de cinco volumes de livros didáticos para a aprendizagem da língua portuguesa “UM PASSO NOVO”. Além disso, existe a oportunidade de estudar o português na Universidade de Goa. A pessoa designada pelo Instituto Camões, o leitor Doutor Lume, falou de cerca de 60 estudantes, dos quais ele tinha de cuidar.

A presença oficial portuguesa em Goa é hoje limitada a um Consulado-Geral e uma sucursal recém-inaugurada da Fundação do Oriente. O exercício da língua portuguesa na vida quotidiana é hoje limitada essencialmente à parte cristã da velha geração local.

Macau

Com 97% da população os chineses possuem a esmagadora maioria, seguido de 2% de portugueses. Estes últimos são muitas vezes enviados de Portugal para um período determinado para trabalhar na administração pública e na educação. Até 1991 o português era a única língua oficial. Desde aquele ano o chinês tem o mesmo estatuto. Enquanto que é possível na prática em todos os lugares de fazer-se compreendido em chinês, é apenas realizável em português somente de forma limitada. O inglês faz concorrência como lingua de negócios à língua oficial de origem europeia, simplesmente por causa da proximidade de Hong Kong. Neste contexto a administração portuguesa de Macau omitiu muito no passado. Apenas nas poucas escolas portuguesas e escolas luso-chinesas o ensino da língua portuguesa é uma disciplina obrigatória. Nas numerosas escolas chinesas o português é oferecido apenas como uma matéria facultativa. A pesar disso todos os editais e os anúncios – mesmo das lojas – são sempre realizados em ambas as línguas oficiais. O ponto fraco uma vez reconhecida tenta-se de contrapor nos últimos anos através do aumento da formação de professores de português na educação de adultos. O Centro de Difusão de Línguas e o Instituto Português do Oriente (IPOR) tentam de remediar à falta de conhecimento do português pela população.

Timor Português – Timor-Leste

Mesmo a geração mais jovem que não tenha testemunhado a invasão indonésia em 1975 está engajada com a autodeterminação e independência de Timor-Leste, embora a maioria dos jovens têm pouco ou nenhum conhecimento do português. O novo sistema de ensino não prevê a instrução nesse idioma. Em lugar disso todos os alunos têm de aprender o idioma malaio, quer dizer a língua Bahasa Indonésia. O único grupo de pessoas que acolheram a integração pelo governo indonésio eram os migrantes que foram enviados pelo governo de Jacarta no âmbito do programa de reassentamento “Transmigrasi” para Timor-Leste. Este grupo de pessoas falando em contraste com a geração mais velha e média timorense nenhuma palavra de português, de modo que eles são fáceis de detectar como imigrantes dum país não-lusofono. Eles substituíram uma parte não-negligenciável dos homens de negócios chineses, que refugiaram-se para a Austrália em 1975.

Todos os anúncios e toda a publicação são realizados em Bahasa Indonésia. Não há publicações geralmente acessíveis em português. Apenas os nomes das ruas foram assumidos do período português, agora precedidos pela denominação rua ou avenida emprestada da língua Bahasa Indonésia “jalan”. A única outra memória é a existência de vários monumentos em Díli com inscrição portuguesa. Um deles é uma recordação do quinto centenário da morte do Infante Dom Henrique em 1960.

Como uma personalidade marcante encontrei o padre Eduardo Brito da paróquia de Balide da Igreja Católica em Díli. Ele veio de Margão/Goa em um grupo de 40 sacerdotes para Timor Português em 1947. Apenas três sacerdotes ainda estão vivos e continuam a ser ativos na sua pátria adotiva. Para os muitos anos de serviço o padre Brito foi homenageado em 1995 pelo governador José Abílio Osório Soares e já colocando-o durante a sua vida um monumento com o seu busto.

Atualização aos meados de 1997

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África Ásia Colonialismo Alemão Oceania

Desenvolvimento das antigas Colónias alemãs desde 1920

Escrito por Dietrich Köster

COLÓNIAS NA ÁFRICA

África Oriental Alemã, tomada de posse em 1884/85

Território de Tanganhica
1920 à Grã-Bretanha –
1961 Estado Independente de Tanganhica/1962 República de Tanganhica – Abril de 1964 parte da República Unida de Tanganhica e Zanzibar/desde Novembro de 1964 da República Unida da Tanzânia
Ruanda-Urundi
1920 à Bélgica –
1962 República Ruandesa (parte norte)
1962 Reino do Burúndi/desde 1966 República do Burúndi (parte sul)
Triângulo de Quionga
1920 restituído a Portugal (África Oriental Portuguesa) –
1975 parte da República Popular de Moçambique/desde 1990 da República de Moçambique

África do Sudoeste Alemã, tomada de posse em 1884

1920 à União da África do Sul/1961 República da África do Sul –
desde 1990 República da Namíbia

Camarões, tomada de posse em 1884

Camarões Ocidentais
1920 à Grã-Bretanha –
1960 parte do Estado Independente da Nigéria/desde 1963 da República Federal da Nigéria (parte norte) e 1960 parte do Estado Independente da Nigéria –
1961 parte da República Federal dos Camarões/1972 da República Unida dos Camarões/desde 1984 da República dos Camarões (parte sul), respectivamente.
Camarões Orientais
1920 à França –
1960 República dos Camarões –
1961 parte da República Federal dos Camarões/1972 da República Unida dos Camarões /desde 1984 da República dos Camarões
Neukamerun (Novos Camarões) – agregado aos Camarões em 1911 – foi readjudicado em 1920 às colónias adjacentes da África Equatorial Francesa (AEF):
Chade (1960 República do Chade), Ubangui-Chari (1960 República Centro-Africana, 1976 Império Centro-Africano/1979 República Centro-Africana), Médio Congo (1960 República do Congo/1970 República Popular do Congo/1992 República do Congo), Gabão (1960 República Gabonesa), respectivamente.

Togo, tomada de posse em 1884

Parte Ocidental do Togo
1920 à Grã-Bretanha –
1957 parte do Estado Independente do Gana/desde 1960 da República do Gana
Parte oriental do Togo
1920 à França –
desde 1960 República Togolesa

COLÓNIAS NO ÂMBITO DO PACÍFICO

Nova Guiné Alemã

Terra do Imperador Guilherme, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Salomão Alemãs, tomada de posse em 1884-1886
1920 à Austrália –
desde 1975 parte do Estado Independente da Papuásia-Nova Guiné
Ilhas Marshall (parte da Micronésia Alemã ao norte do equador), tomada de posse em 1885
1920 ao Japão –
1947 sob administração dos Estados Unidos como parte do Território sob tutela das Ilhas Pacíficas das Nações Unidas –
desde 1990 República das Ilhas Marshall
Nauru (Micronésia Alemã ao sul do equador), tomada de posse em 1888
1920 à Austrália, à Nova Zelândia e à Grã-Bretanha/administração mandatária desempenhada pela Austrália –
desde 1968 República de Nauru
Micronésia Alemã ao norte do equador sem as Ilhas Marshall, tomada de posse em 1899
1920 ao Japão –
1947 administração dos Estados Unidos como parte do Território sob tutela das Ilhas Pacíficas das Nações Unidas
a) desde 1990 Comunidade dos Estados Unidos das Ilhas Marianas do Norte
b) desde 1994 República de Palau
c) desde 1990 Estados Federados da Micronésia (Ilhas Carolinas)

Território Alemão de Kiauchau, tomada de posse em 1897/98

1920 ao Japão –
1922 restituído à China – 1949 parte da República Popular da China

Samoa Alemã, tomada de posse em 1899/1900

1920 à Nova Zelândia –
1962 Estado Independente da Samoa Ocidental/desde 1997 Estado Independente da Samoa

Anotações:
A Micronésia Alemã abrange as Ilhas Marianas excepto Guam, as Ilhas Palau, as Ilhas Carolinas, as Ilhas Marshall e a Ilha de Nauru.
Com a excepção do Território Alemão de Kiauchau e do Triângulo de Quionga todas as possessões ultramarinas alemãs tornaram-se mandatos da Sociedade das Nações em 1920:
Togo e os Camarões tornaram-se mandatos B e foram partidos entre a França e a Grã-Bretanha como mandatários.
Tanganhica e Ruanda-Urundi tornaram-se mandatos B com a Grã-Bretanha e a Bélgica como mandatário, respectivamente.
A África do Sudoeste Alemã, a Micronésia ao norte do equador e a Samoa Alemã foram subordinadas como mandatos C à autoridade mandatária da União da África do Sul, do Japão e da Nova Zelândia, respectivamente.
Nauru como Micronésia ao sul do equador recebeu como mandato C a Grã-Bretanha, a Austrália e a Nova Zelândia como potências mandatárias.
A Nova Guiné Alemã restante (Terra do Imperador Guilherme, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Salomão Alemãs) passou como mandato C sob a autoridade administrativa da Austrália.
Em 1947 estes domínios tornaram-se até a independência política Territórios sob tutela das Nações Unidas.
Naquele ano somente o Japão foi substituído pelos Estados Unidos como potência administrativa
(Território sob tutela das Ilhas Pacíficas das Nações Unidas).
Pela parte das Ilhas Marianas do Norte a independência não é projectada.
Este arquipélago é juntado a partir de 1990 como Comunidade das Ilhas Marianas do Norte numa união política com os Estados Unidos.
A cessão das possessões ultramarinas alemãs efectuou-se segundo o Tratado de Versalhes do 28 de Junho de 1919, que entrou em vigor a 10 de Janeiro de 1920.

Copyright Março de 2004 por Dietrich Köster, D-53115 Bonn

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Colonialismo neerlandês Colonialismo português Sri Lanka

A História de Trincomalee durante os domínios português e neerlandês: Introdução

Escrito por Marco Ramerini. Tradução feita por João Bergmann

1.0 INTRODUÇÃO

A baía, chamada pelos portugueses de Baía dos Arcos, onde fica a cidade de Trincomalee1 na ilha de Sri Lanka (antigo Ceilão), sempre foi considerada como um dos melhores portos do mundo, com sua posição altamente estratégica no centro das rotas comerciais do Oceano Índico, e seu controle de todo o Golfo de Bengala, teria feito dela o local ideal para o desenvolvimento de um grande porto e centro de comércio, mas isso não aconteceu. Na verdade, ao contrário do que se poderia pensar, admirando-se a beleza e a importância de tal local de ancoragem, Trincomalee nunca se tornou um centro de grande importância durante a era colonial portuguesa e holandesa. As primeiras duas potências coloniais que dominaram e ocuparam as áreas costeiras da ilha de Ceilão durante cerca de 300 anos (1505/6 – 1796) preferiram focar seus interesses na região sudoeste da ilha (onde ficavam os portos de Colombo e Galle), enquanto que ao longo da costa leste a presença portuguesa e holandesa era inexistente, ou pelo menos durante parte do período mencionado limitada à região dos fortes de Trincomalee e Batticaloa.

Esta falta de interesse por Trincomalee e, de uma maneira geral, pela costa leste da ilha, foi causada por diversos fatores. A razão principal foi que, à época da chegada dos portugueses ao Ceilão, o reino mais importante da ilha, e aquele com o qual os portugueses mantinham relações comerciais (principalmente devido ao comércio de canela) era o de Kotte, cujos territórios se estendiam pela região sudoeste da ilha2 , e cuja capital, Jayawardhanapura Kotte, ficava somente a poucos quilômetros de Colombo, de maneira que esta localidade foi utilizada pelos portugueses como base principal para a subseqüente expansão da ilha. Durante o primeiro período de colonização lusa, a costa leste do Ceilão ficou praticamente esquecida, e somente após os primeiros invasores europeus (dinamarqueses e holandeses) alcançarem ameaçadoramente os mares asiáticos foi que os portugueses se deram conta da necessidade de ocupar e fortalecer Trincomalee e Batticaloa.

Outra razão pela qual Trincomalee nunca se alçou à posição de importante centro comercial durante o período português foi bem explicada por Queyroz: “[Trincomalee] …tinha um grande inconveniente, que era o de que, na época, não havia outros vizinhos a não ser os bedas, que são homens tão bárbaros e indisciplinados que raramente aparecem para outras pessoas.” 3 Queyroz mais adiante observa que se a região de Trincomalee se tornasse habitada e cultivada, ela poderia facilmente ser auto-suficiente. 4

O porto de Trincomalee, juntamente com Kottiar e Batticaloa, foi usado no século XVI pelo reino de Kandy como porto de exportação de elefantes e nozes de areca, e importação de bens de primeira necessidade de outros países asiáticos. Embora Barros cite Trincomalee como um dos nove reinos da ilha de Ceilão,5 este era apenas um pequeno principado sob o domínio do Vanniyar 6 de Trincomalee e Kottiyar, que era tributário e súdito, pelo menos nominalmente, do rei de Kandy. O território do Vannyar de Trincomalee era esparsamente habitado e tinha uma extensão de 23 léguas.7 Trincomalee ficava situado entre as áreas nominalmente controladas pelos reinos de Kandy e Jaffna. A presença do rio Mahaweli Ganga, que passa perto de Trincomalee, facilitou as conexões com o planalto e com Kandy, e graças a isto, um intenso tráfego de mercadorias acontecia entre os portos de Kottiyar e Trincomalee. No vilarejo de Vintêna, que ficava a três léguas de Trincomalee, os kandyanos costumavam comercializar e trocar os produtos do Ceilão (principalmente elefantes e nozes de areca) por roupas, ópio e outros bens de consumo, com os mercadores procedentes do resto da Ásia.8

De acordo com o que Queyroz escreveu, Triquilemalê significa “montanha dos três pagodas”9 , estes pagodas foram construídos pelo rei do Ceilão num elevado promontório com vista para o mar; dois deles situavam-se na extremidade de um penhasco à beira-mar, enquanto o terceiro ficava no ponto mais alto do promontório. Este último pagoda, o templo de Koneswaram, era o mais importante de todos e um dos mais venerados de toda a Índia.10 A razão principal da importância de Trincomalee era este pagoda, que Queyroz denominou a Roma das populações do Oriente ou a Roma dos pagãos.11 O templo é assim descrito, numa carta datada de 1613 escrita pelo jesuíta Frei Barradas: “[O templo é] …uma estrutura maciça, uma obra de arte singular. Era um prédio de grande altura, construído com maravilhosa habilidade em granito escuro, numa rocha que se projeta para o mar, e ocupava uma grande área no topo do promontório.”12 A vila de Trincomalee situava-se no istmo do cabo onde ficavam os pagodas.

Continua: Os primeiros contatos com os portugueses

Mapa de Sri Lanka (Ceilão) (1681). Robert Knox. An Historical Relation of the Island Ceylon.
Mapa de Sri Lanka (Ceilão) (1681). Robert Knox. An Historical Relation of the Island Ceylon.

NOTAS:

1 Denominada pelos portugueses como: Triquinimale (Bocarro “Livro das Plantas…”, vol. II, pág. 238; Bocarro “Década 13 da História da Índia”, vol. I, pág. 11, Triquilemalê (Queyroz “The temporal and spiritual…”, vol. I, pág. 66), Trinquilamale (Bocarro “Década 13 da História da Índia”, vol. I, pág. 277), Triquilimale (“Carta do Vice-Rei da Índia”, Livros das Monções, Goa, vol. 37, fls. 129-129 v).

2 O monarca do reino de Kotte se auto-denominava imperador de toda a ilha, mas a autoridade dirigida do reinado de Kotte nas primeiras décadas do século XVI se estendiam exclusivamente pelas ricas e densamente povoadas terras compreendidas entre o curso dos rios Malwatu Oya ao norte e Walawe Ganga ao sul, enquanto que para o interior alcançava o limite das montanhas do planalto central. O reino que ocupava a parte montanhosa da ilha, pobre e escassamente povoada, era o de Kandy ou Udarata; este pelo menos nominalmente reconhecia o poder do reino de Kotte. Algumas zonas pouco habitadas situadas no lado leste da ilha e sujeitas a pequenos chefes ditos “vanniyars” ou “príncipes” nominalmente reconheciam a autoridade do reino de Kotte, e até mesmo eram de fato independentes. Já na região norte da ilha ficava o reino de Jaffna; este não reconhecia as pretensões de Kotte sobre toda a ilha. Em 1521, revoltas internas levaram à divisão do reino de Kotte e à subseqüente formação de três reinos: Kotte (governado por Bhuvanekabaho VII), Sitavaka (governado por Mayadunne) e Raigama (governado por Pararajasimha).

3 Queyroz “The temporal and spiritual…”, vol. II, pág. 735

Os Veddah (Bedas) são a mais antiga população aborígene original da ilha. A palavra veddah é de origem cingalesa e significa selvagem. Ainda nos dias de hoje algumas comunidades Veddah remanescem, sendo que as três mais importantes situam-se perto de Batticaloa, Trincomalee e Anuradhapura.

4 Queyroz “The temporal and spiritual…”, vol. III, págs. 1153-1154

5 Barros “Década III”, pág. 117

6 Chefe hereditário

7 Perniola “The Catholic church in Sri Lanka. The Portuguese period”, vol. I, pág. 286

8 Este comércio estava principalmente nas mãos de mercadores muçulmanos. Queyroz “The temporal and spiritual…”, vol. II, pág. 736

9 De acordo com os escritos de Queyroz, os pagodas foram construídos 1300 anos antes de Cristo. Queyroz “The temporal and spiritual…”, vol. I, pág. 67

10 Queyroz “The temporal and spiritual…”, vol. I, pág. 66 e vol. II, pág. 736

11 Queyroz “The temporal and spiritual…”, vol. I, págs. 236-237

12 Perniola “The Catholic church in Sri Lanka. The Portuguese period”, vol. II, pág. 366

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Bibliografias holandesas Bibliografias portuguesas Colonialismo neerlandês Colonialismo português Sri Lanka

Trincomalee: Bibliografia. A História de Trincomalee (Sri Lanka) durante os domínios Português e Neerlandês

Escrito por Marco Ramerini.

Continuação de: A primeira ocupação britânica e a rendição definitiva dos Neerlandeses

9.0 BIBLIOGRAFIA

MATERIAL CONSULTADO

Você também pode procurar as fontes citadas nas notas.

FONTES:

– Vários Autores “Livro das plantas, das fortalezas, cidades e povoações do Estado da Índia Oriental”, 1991 Codex n° 1471, Paço Ducal of Vila Viçosa library.

– Vários Autores “Costantine da Sa’s maps and plans of Ceylon, 1624-1628”, 1929, Colombo.

– Brohier, R.L. and Paulusz, J. H. O. “Land, maps & surveys. Descriptive catalogue of historical maps in the Surveyor General’s Office, Colombo”, vol. II, 1951, Colombo.

– Various Authors “Portuguese maps and plans of Ceylon, 1650”, 1926, Colombo.

– Various Authors “Documentos remetidos da Índia ou Livros das Monçỡes, 1625-1627”, 1999, Lisboa.

– da Silva Rego, António “Documentação para a história das missỡes do Padroado Português do Oriente. Índia”, 13 vols, Lisboa.

– Becker, Hendrick “Memoir of Hendrick Becker, Governor of Ceylon for his successor Isaac Augustyn Rumpf, 1716”, 1914, Colombo.

– Bocarro, António “O livro das plantas de todas as fortalezas, cidades e povoações do Estado da Índia Oriental”, 3 vols. Imprensa Nacional – Casa da Moeda.

– Bocarro, António “Década 13 da história da Índia”, 2 vols.

– Caen, António “Extracts from the Journal of the Commander António Caen”, in: Journal, R.A.S. (Ceylon), n° 35 (1887), “The capture of Trincomalee A.D. 1639”, pp. 123-140.

– Goens, Ryclof van “Memoir left by Riclof van Goens, Jun. Governor of Ceylon, 1675-1679 to his successor, Laurens Pyl”, Colombo.

– Perniola, V. “The Catholic church in Sri Lanka. The Portuguese period”, 3 vols. Tisara Prakasakayo Ltd, 1989-1991, Dehiwala.

– Queyroz, Fernão de “The temporal and spiritual conquest of Ceylon”, 3 vols. 28+xxviii+1274 pp. Asian Educational Services, 1992, New Delhi-Madras.- Da Silva Rego, António “Documentação para a história das missỡes do Padroado Português do Oriente. Índia”, 13 vols, Lisboa.

– Raven-Hart “The Dutch wars with Kandy, 1764-1766”, 1964, Colombo.

– Rhee, Thomas van “Memoir left by Thomas van Rhee, Governor of Ceylon, for his successor, Gerrit de Heere, 1697”, 1915, Colombo.

– Ribeiro, João “The historic tragedy of the island of Ceilão”, xvii+266 pp. Asian Educational Services, 1999, New Delhi-Madras.

– Schreuder, Jan “Memoir of Jan Schreuder, Governor of Ceylon, delivered to his successor Lubbert Jan Baron van Eck, March 17, 1762”, in: Selection from the Dutch records of the Ceylon Government, n° 5, 1946.

– Trindade, Paulo “Conquista espiritual do Oriente”, 3 vols, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1962-1964-1967, Lisboa.

ESTUDOS:

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– Arasaratnam, S. “Ceylon and the Dutch, 1600-1800”, Variorum, 1996, Aldershot.

– Barner Jensen, U. “Danish East India. Trade coins and the coins of Tranquebar, 1620-1845”, 48 pp. Uno Barner Jensen, 1997, Brovst.

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– Kotelawele, A. “The Dutch in Ceylon, 1743-1766”, Unpublished thesis. University of London, 1968.

– Nelson, W. A. “The Dutch forts of Sri Lanka. The military monuments of Ceylon”, xiv+152 pp. Canongate, 1984, Edinburgh.

– Silva, Chandra Richard de “The Portuguese in Ceylon, 1617-1638”, 267 pp. H. W. Cave & Company, 1972, Colombo.

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– Winius, G. “Fatal history of Portuguese Ceylon. Transition to Dutch rule”, xxi+215 pp. Harvard University Press, 1971, Cambridge, Massachusetts.

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Colonialismo português Língua Portuguesa Timor-Leste

Política linguística de Timor-Leste: A Reintrodução do Português como Língua Oficial e de Ensino

Escrito por Dietrich Köster

1. Breve resumo histórico geral

Timor-Leste/Timor Português foi colonizado por Portugal, a partir dos princípios do século XVI. Esta presença durou até Agosto de 1975, período em que se iniciou uma guerra civil entre dois partidos políticos timorenses lutando pelo poder.

Nesta altura o pessoal português de administração e os membros portugueses da tropa – encabeçados pelo governador português, o então Coronel Mário Lemos Pires – retiraram-se para a ilha adjacente de Ataúro em busca de refúgio.

No dia 7 de Dezembro de 1975, de forma cruel, Timor-Leste foi invadido militarmente numa acção conjunta dos três ramos das forças armadas da Indonésia.

Quase 24 anos depois o regime de ocupação indonésio acabou depois da Consulta Popular, organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a 30 de Agosto de 1999. A independência, promovida por esta organização, foi realizada a 20 de Maio de 2002.

2. A política linguística da potência colonial portuguesa até 1975

Durante todo o período colonial português a língua portuguesa tinha um papel eminente. Toda a administração se servia do português como única língua de comunicação oral e escrita. A língua de ensino em todos os estabelecimentos escolares era também exclusivamente o português. Esta atitude perante a língua portuguesa fez parte da política ultramarina de assimilação linguística e cultural do período colonial.

3. A política linguística da FRETILIN 1974-78

Pouco depois da fundação da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN) no ano de 1974 começaram os cursos de alfabetização, ministrados em língua tétum, a língua local mais importante. Estes cursos acabaram já em 1978 por causa do perigo de serem detectados pelos militares ocupantes indonésios. Por outro lado, a liderança deste partido continuou considerar o português como língua oficial.

4. A política linguística da potência ocupante indonésia 1975-99

Com a invasão indonésia, na forma de uma agressão combinada dos três ramos das forças armadas indonésias, a política linguística mudou completa e abruptamente. A língua indonésia, ou seja, o Bahasa Indonesia – uma língua artificial baseada na lingua malaia -, foi introduzida em todos os domínios da vida pública. A língua exclusiva das autoridades tornou-se o indonésio. Nas escolas todas as disciplinas eram dadas em indonésio. A maioria dos professores eram transmigrantes, sobretudo da ilha de Java, a ilha mais importante e mais povoada da Indonésia. A língua portuguesa foi proibida. Para os novos senhores da ocupação, o português era considerado como uma língua suspeita, porque não a conheciam e não queriam aprendê-la. Foi a razão pela qual o português foi excluído da vida pública em 1981. A única lingua aceite e ensinada a par do indonésio era o inglês, leccionado como língua estrangeira nas escolas secundárias.

Todas as novas inscrições eram em indonésio, se bem que os nomes das ruas continuassem a serem denominados na maneira portuguesa, antepondo a designação indonésia “jalan” para “rua”.

O resultado deste período de ocupação foi o seguinte:

A maioria dos habitantes com menos de 35 anos tem poucos conhecimentos da língua portuguesa, mas possui um bom domínio da língua indonésia. Há mesmo uma certa rejeição a aprender mais uma nova língua que não é de origem local.

Em 1992 a última escola com português como língua de ensino, o Externato de São José – uma escola da Igreja Católica – teve de fechar as suas portas. Somente os seminários menores e o maior desta igreja puderam continuar com o ensino do português. Mas a língua portuguesa foi abolida da missa sob pressão dos ocupantes a favor do tétum, a língua local mais conhecida.

5. O começo duma nova era após a Consulta Popular: a discussão da questão linguística

Com quatro línguas de relevância, Timor-Leste tem uma problemática delicada. São as línguas tétum, portuguesa, indonésia e inglesa que fazem concorrência entre si:

A língua nacional mais conhecida e bem enraizada é o tétum falado por aproximadamente 80% da população. A língua oficial tradicional durante séculos foi o português, que é falado actualmente só por 15% da população escolarizada durante o período em que o país foi uma província ultramarina portuguesa ou uma colónia, ainda que 77% da população em idade escolar frequentasse os vários graus de ensino no ano lectivo de 1973-74. Contudo um conhecimento passivo da língua portuguesa caracteriza uma grande parte da população graças ao imponente elemento português na língua tétum, hoje falada pela maioria dos leste-timorenses. De facto é impossível que um timorense tetumófono nada perceba de uma conversa ou um discurso em português.

A actual elite política sempre conservou os seus conhecimentos activos da língua portuguesa. A liderança da guerrilha FALINTIL sempre apostou no português como a língua que unisse todos os leste-timorenses.

A língua dos invasores indonésios, o Bahasa Indonesia é bastante bem conhecida pela nova geração por causa da alta percentagem de escolarização durante o regime indonésio. Esta camada etária gostaria de continuar com o indonésio como língua de comunicação geral.

Finalmente, o inglês é considerado como um meio de comunicação internacional por pessoas da nova geração, útil para fazer uma carreira profissional. Esta língua goza dum prestígio, que foi reforçado pela presença dos membros da Administração Transitória das Nações Unidas. Estas pessoas utilizavam o inglês.

6. A alocução do Professor Geoffrey Hull por ocasião do Congresso Nacional do CNRT em 2000

Foi o professor australiano Geoffrey Hull, da Universidade de Western Sydney, que deu um grande impulso à reintrodução da língua portuguesa graças a uma comunicação proferida por ocasião do Congresso Nacional do Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT) no dia 25 de Agosto de 2000. Afirmou que a língua principal nacional de Timor-Leste, o tétum, só se poderia desenvolver juntamente com o português. São estas duas línguas que garantiam, juntamente com a fé cristã, a identidade nacional de Timor-Leste.

Em contrapartida, o inglês seria pouco apropriado como língua oficial, porque esta língua aspira sempre por um papel dominador ameaçando as línguas locais. A Austrália, as Filipinas e Malta são exemplos de assassínio linguístico.

Por outro lado, o Bahasa Indonesia estaria inevitavelmente associado para a população leste-timorense, após 24 anos de genocídio, ao terror e à brutalidade. Assim, esta língua não poderia servir de língua oficial.

Após esta alocução, o Congresso Nacional do CNRT decidiu introduzir o português como língua oficial na futura República Democrática de Timor-Leste.

7. As disposições da Constituição da República Democrática de Timor-Leste relativas às línguas

Artigo 13

(Línguas oficiais e línguas nacionais)

1. O tétum e o português são as línguas oficiais da República Democrática de Timor-Leste. 2. O tétum e as outras línguas nacionais são valorizadas e desenvolvidas pelo Estado.

Artigo 159

(Línguas de trabalho)

A língua indonésia e a inglesa são línguas de trabalho em uso na administração pública a par das línguas oficiais, enquanto tal se mostrar necessário.

8. O apoio português na reintrodução da língua portuguesa

Contactos oficiosos entre o Instituto Camões de Portugal e o CNRT, antes de 30 de Agosto de 1999, foram transformados em contactos oficiais imediatamente depois da Consulta Popular, por meio de acordos entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal conjuntamente com o Ministério da Educação de Portugal e o CNRT, os dois Governos Transitórios e o primeiro Governo Constitucional respectivamente. Estes prevêem o envio de 145 professores para o ensino da língua portuguesa e de outras disciplinas em língua portuguesa. Este corpo docente está espalhado pelas escolas dos 13 distritos de Timor-Leste, variando entre 3 professores para Aileu e 49 para Díli. A coordenação é realizada pela Adida de Educação da Embaixada de Portugal.

Por outro lado, o Instituto Camões disponibiliza 16 formadores (incluindo a coordenadora), que fazem parte do Centro de Língua Portuguesa (CLP) ensinando português como língua especializada em cursos extracurriculares. Estes cursos dirigem-se sobretudo aos membros da administração pública de Timor-Leste, como por exemplo, os colaboradores dos vários ministérios, da Academia da Polícia, do Quartel dos Bombeiros, dos tribunais, dos Serviços Centrais da Administração, da Comissão do Plano, do Banco Nacional Ultramarino.

Existiam em Fevereiro de 2002 59 turmas com 1250 inscritos, com uma média de 21 alunos por turma, dos níveis de iniciação, elementar, intermédio e avançado.

As entidades privadas são também encorajadas a fazer solicitações para o estabelecimento de cursos especialmente organizados para elas, com um mínimo de 10 participantes.

Os membros do Ministério dos Negócios Estrangeiros são obrigados a participar, de segunda a sexta-feira, das 9 às 10 e das 17 às 18 horas nos cursos de conversação de português.

15 docentes universitários dão aulas para os estudantes que abrangem o estudo de língua portuguesa e culturas lusófonas na forma de licenciatura estabelecida recentemente na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTIL).

Além disso, há 7 professores portugueses que preparam os alunos que acabaram o curso de escola secundária para a frequência dum estudo numa universidade em Portugal. Os docentes foram destacados pela Fundação das Universidades Portuguesas (FUP).

Finalmente, há cursos gerais de aprendizagem da língua portuguesa para todos os estudantes interessados. Assim, foram instituídas turmas para 5000 participantes.

O núcleo de promoção de todas as actividades de ensino do português é o Centro de Língua Portuguesa (CLP), fazendo parte da Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTIL) e sendo apoiado e financiado pelo Instituto Camões.

9. A introdução da língua portuguesa nas escolas primária e secundária

A Escola Primária abrange os primeiros seis anos de escolaridade. No ano lectivo 2001/2002, as disciplinas eram ministradas, nos primeiros três anos do ciclo básico, em lingua portuguesa de manhã. A lingua tétum servia como língua auxiliar oral, caso houvesse problemas de compreensão. Cada ano lectivo é adicionada mais uma classe com a língua portuguesa como meio de ensino.

De tarde, os professores leste-timorenses frequentavam um curso de aperfeiçoamento na língua portuguesa leccionado pelos professores chegados de Portugal e distribuídos pelos 13 distritos de Timor-Leste.

Enquanto na Escola Primária o progresso da introdução da língua portuguesa avança cada ano mais, em detrimento da língua indonésia, as aulas da Escola Pré-Secundária (7. ao 9. ano) e as da Escola Secundária (10. ao 12. Ano) ainda continuam geralmente a serem dadas em língua indonésia. Por outro lado, existem já aulas intensivas de língua portuguesa como disciplina para todos os alunos, dadas por professores de Portugal.

Os primeiros livros vieram de Macau, território português até fins de 1999, mas, entretanto, a maioria dos livros escolares para os alunos são publicações impressas em Portugal. Suplementarmente todos os professores receberam uma “Mala Pedagógica” com vários livros, como ferramenta útil de ensino da língua portuguesa.

10. A introdução do português na Universidade Nacional de Timor-Leste

Na UNTIL a língua indonésia é ainda o meio de comunicação dominante. Mas com os cursos de língua portuguesa oferecidos a milhares de estudantes, os conhecimentos do português aumentam cada vez mais. Até agora a língua utilizada depende do docente. No caso de professores lusófonos pode ser feita uma tradução para a língua tétum. Em princípio pode dizer-se que o número de cursos dados em português tem vindo a subir.

11. A introdução do português como língua oficial

A partir do Dia da Independência todos os documentos deveriam estar redigidos ou em língua portuguesa ou em língua tétum. Caso haja a necessidade, podem utilizar-se ainda as línguas inglesa ou indonésia como línguas de trabalho. Actas importantes realizadas durante o período da Administração Transitória das Nações Unidas (Novembro de 1999 até Maio de 2002) devem ser traduzidas pelo menos do inglês para o português.

12. Medidas de apoio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC)

1. Desenvolvimento Empresarial e Formação Profissional em Timor-Leste

É um centro de formação profissional do ramo técnico no Bairro Becora da capital Díli que foi inaugurado pelo ministro brasileiro das Relações Exteriores Celso Lafer a 21 de Maio de 2002, o dia depois da independência. Os cursos são dados em português com tétum como língua auxiliar oral.

2. Alfabetização Comunitária em Timor-Leste

Trata-se de cursos de alfabetização em todos os distritos de Timor-Leste para adultos com métodos introduzidos à base de experiências feitas no Nordeste do Brasil. Ensina-se tudo em português, mas com tétum como meio auxiliar oral.

3. Formação de Professores e Alunos com Recurso da Educação à Distância em Timor-Leste

Neste curso utilizam-se meios modernos do audio-visual como cassetes áudio e vídeo, bem como livros de texto tradicionais para jovens e adultos nos ensinos primário e pré-secundário. Além disso, tenciona-se formar professores leigos em exercício para o ensino primário. O programa brasileiro de “Parâmetros em Ação” procura aperfeiçoar professores na sala de aula. Nos cursos utiliza-se a língua portuguesa com o tétum como fala auxiliar oral.

13. Perspectivas de reintrodução da língua portuguesa em Timor-Leste

Graças ao generoso apoio português, a reintrodução da língua portuguesa está cada vez mais em expansão. No planeamento do Instituto Camões espera-se que pelo menos um em cada dois leste-timorenses seja fluente na língua portuguesa dentro dum prazo de dez anos.

Com a adesão de Timor-Leste à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a 31 de Julho de 2002, os laços com os países de língua oficial portuguesa fortalecerá ainda mais a lusofonia de Timor-Leste.

BIBLIOGRAFIA:

– Tavares Esperança, João Paulo, Estudos de Linguística Timorense, SUL – Associação de Cooperação para o Desenvolvimento, com o Apoio do Comissariado para o Apoio à Transição em Timor. Aveiro 2001, ISBN 972-97343-1-X

– Camões, Revista de Letras e Culturas Lusófonas, número 14 – Timor Lorosa’e, Julho-Setembro de 2001, Instituto Camões, Lisboa 2002, ISSN 0874-3029

– Tinoco. Jacinto, Não haverá unidade nacional sem unidade linguística, em: Boletim de Notícias, Associação Cultural Luso-Timorense, Edição número 3, pág. 1, Díli Abril de 2002

– Hull, Geoffrey, Timór-Lorosa’e, Identidade, Lian no Polítika Edukasionál/Timor-Leste, Identidade, Língua e Política Educacional, Instituto Camões, Lisboa 2001

– Thomaz, Luís Filipe F.R., Babel Loro Sa’e, O Problema Linguístico de Timor-Leste, Colecção Cadernos Camões, Instituto Camões, Lisboa 2002

– Leclerc, Jacques, L’Aménagement linguistique dans le monde: Timor Loro-Sa’e (République de Timor Lorosae), Universidade Laval, Quebeque 2004, https://www.axl.cefan.ulaval.ca/asie/timor-1_situation.htm

Veja também:

– Dietrich Köster (Bona), Política linguística de Timor-Leste: a reintrodução do português como língua oficial e de ensino, Lusorama, 57-58, Francoforte do Meno Maio de 2004, pág. 172-179, ISSN 0931-9484

– Dietrich Köster (Deutsche Gesellschaft für die afrikanischen Staaten portugiesischer Sprache), Política linguística de Timor-Leste: a reintrodução do português como língua oficial e de ensino, ESTUDOS DE LÍNGUAS E CULTURAS DE TIMOR-LESTE/Studies in Languages and Cultures of East Timor, número 6, 2004, pág. 1-7, INSTITUTO NACIONAL de LINGUÍSTICA da Universidade Nacional Timor Lorosa’e, ISSN 1441-1105

– LUSOPHONIE IN GESCHICHTE UND GEGENWART, Festschrift für Helmut Siepmann zum 65. Geburtstag, editado por Richard Baum e António Dinis, Dietrich Köster, Política linguística de Timor-Leste: a reintrodução do português como língua oficial e de ensino, pág. 123-129, Bona 2003, ISBN 3-86143-145-9 e ISSN 0178-8515

© Dezembro de 2004 por Dietrich Köster, D-53115 Bonn 

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Colonialismo português

Império Português: Mapas da África, América e Ásia

Escrito por Marco Ramerini. Tradução por Dietrich Köster

Em qualquer lugar da costa da Ásia, América e África poderá encontrar uma fortaleza, uma igreja, um nome geográfico ou um nome de família, que vêm de Portugal. Estes são os restos do primeiro país europeu que explorou o mundo em busca de especiarias e almas. O sonho de Afonso de Albuquerque foi uma infusão de sangue português em cada uma das colónias. Como o governador holandês Antonio van Diemen disse em 1642: “A maioria dos portugueses na Ásia olha para esta região como a sua pátria e não pensa mais a Portugal”.

No século XV uma pequena nação como Portugal começou a explorar o Oceano Atlântico, desde 1415 (conquista de Ceuta em Marrocos). Os Portugueses exploraram as costas da Africa em busca de um caminho para as Índias, e em 1487 Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança. Depois de dez anos (1497-1499) Vasco da Gama chegou às Índias (18 de maio de 1498), e abriu uma nova rota comercial entre a Europa e a Ásia. Esta pequena nação foi a governante do Oceano Índico para cerca de 150 anos e o idioma português, foi durante mais de 250 anos, a lingua comercial (língua franca) das costas asiáticas.

No início do século XVII, uma outra pequena nação, as Províncias Unidas dos Países Baixos tomou o lugar de Portugal. As Províncias Unidas com a Companhia Neerlandesa das Índias Orientais/VOC (Verenigde Oost-Indische Compagnie) e a Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais/GWC-WIC (Geoctroyeerde West-Indische Compagnie) determinou a cena durante quase 150 anos, até a vinda do poder britânico. Amesterdão foi a capital comercial e financeira de toda a Europa e os Países Baixos eram a nação comercial liderante.

MAPA DO IMPÉRIO PORTUGUÊS EM ÁFRICA E AMÉRICA

Mapa das colônias portuguesas na África e na América por volta de 1600. Autor Marco Ramerini
Mapa das colônias portuguesas na África e na América por volta de 1600. Autor Marco Ramerini

MAPA DO IMPÉRIO PORTUGUÊS NA ÁSIA

Mapa das colônias portugueses na Ásia por volta de 1600. Autor Marco Ramerini
Mapa das colônias portugueses na Ásia por volta de 1600. Autor Marco Ramerini

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Colonialismo britânico Colonialismo neerlandês Sri Lanka

Trincomalee: A primeira ocupação britânica e a rendição definitiva dos neerlandeses

Escrito por Marco Ramerini. 

Continuação de: A consolidação da presença neerlandesa

8.0 A PRIMEIRA OCUPAÇÃO BRITÂNICA E A RENDIÇÃO DEFINITIVA DOS NEERLANDESES

Em Dezembro de 1780 o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda declarou a guerra aos Países Baixos. A notícia chegou a Ceilão em junho de 1781 e algumas preparações foram feitas pelo governo da ilha para reforçar a defesa, tendo em vista um ataque iminente e expectável britânico: uma agressão, que logo ocorreu. Na verdade os Ingleses agiu com a rapidez e Trincomalee foi atacado imediatamente.

Em 8 de janeiro de 1782 Trincomalee foi tomado pelos ingleses. A expedição estava sob o comando do almirante Edward Hughes. Em seguida, em 29 de agosto do mesmo ano (1782) a cidade foi ocupada pelos franceses sob o comando do almirante Suffren. Os franceses eram aliados dos holandeses. A frota francesa atacou a cidade, juntamente com um destacamento de tropas holandesas, que atingira Trincomalee de Jaffna por uma rota terrestre. Os britânicos se rendeu sem lutar. Pelos termos dos contratos, que foram estipulados no Tratado de Versalhes, assinado em 1783, os franceses cederam novamente Trincomalee aos holandeses.

Na cidade de Trincomalee os holandeses abriram uma Casa da Moeda e moedas foram produzidas no período entre 1789 e 1793. A administração do território foi liderada por muitos anos pelo comandante de Trincomalee, o coronel von Drieberg, envolvendo funcionários nativos. Ele estabeleceu pessoas nas aldeias de Kottiyar e Tamblagam e o governador de Graaf também propôs a instalar pessoas em Kattekolapattu. Para o coronel von Drieberg conseguiu o último comandante holandês de Trincomalee o maior Jan George Fornbauer.1

Em janeiro 1795 as tropas revolucionárias francesas ocuparam a Holanda, onde a República Batava foi instituída. O Stadthouder fugiu para a Inglaterra. O estado das colônias holandesas foi seriamente ameaçado, porque ninguém sabia que governo foi responsável pelas colônias. Os britânicos foram os primeiros a chegar em Ceilão, exibindo as ordens do Stadhouder, pedindo a ocupação dos fortes holandeses por suas próprias tropas para mantê-los longe do francês. Posteriormente as negociações entre os britânicos e as administrações holandeses da ilha teve lugar, o que levou a um acordo preliminar, pela qual os britânicos estavam autorizados a estação de 800 soldados na ilha: 300 soldados no forte Ostenburg, 300 nos fortes de Negombo e Kalutara e 200 no forte de Matara.

O primeiro de agosto de 1795 os britânicos com uma carta, assinada pelo governador van Angelbeek, atingiu em Trincomalee pedindo sendo recebidos como aliados e permitindo-lhes a ocupação do forte Oostenburgh com 300 soldados. No entanto, Fornbauer, o comandante do forte, se recusou a entregar o forte sem ter recebido uma ordem prévia, por escrito, assinado pelo governador e os membros do conselho de Ceilão, como era prática habitual. Os britânicos não desperdiçar seu tempo em outras negociações e no 2 de agosto desembarcaram suas tropas quatro milhas ao norte da fortaleza e começou a preparar-se para o ataque.

O comandante holandês do forte como o chefe da guarnição tinha sob seu comando cerca de 500 soldados europeus, 250 malaios e 150 Sepoys. Este contingente militar resistiu por algumas semanas, mas depois de um intenso bombardeio de quatro dias, ele foi forçado a render-se em 26 de agosto 1795. A guarnição holandesa foi concedido as honras de guerra e Trincomalee foi depois ocupada pelos britânicos. Cerca de 200 homens do regimento de mercenários suíços de Meuron foram uma parte da guarnição holandesa, também. Eles foram levados prisioneiros de guerra pelos ingleses.

As perdas entre os holandeses somaram 120-130 homens, mortos ou feridos, enquanto que os Ingleses tinham 72 homens mortos ou feridos, entre eles 50 europeus. O forte Oostenburgh, que no início do ataque tinha uma guarnição de 300 soldados, dos quais 200 eram europeus, rendeu-se após um curto bombardeio alguns dias depois, no dia 31 de agosto, 1795.2

O forte de Trincomalee foi renomeado novamente pelos novos mestres Fort Frederick, e mantém este nome até hoje.

Imediatamente após a ocupação britânica, a Baía de Trincomalee foi considerada uma base da Marinha Real britânica, ficando em segundo lugar em importância, apenas ultrapassada por Cingapura. As palavras de Pitt em relação a Trincomalee são particularmente significativos: “a melhor e mais vantajosa baía em toda a Índia”, enquanto o almirante Nelson falou sobre Trincomalee como o melhor porto do mundo.

CRONOLOGIA:

  • Dinamarquês: maio 1620 – 1621.
  • Português: julho 1623 – 2 de maio de 1639.
  • Holandês: 2 de maio 1639-1640.
  • Rei de Kandy: (o forte foi destruído em 1643 e abandonado?) 1640 – setembro de 1665.
  • Holandês: setembro 1665 – 8 de janeiro 1782.
  • Francês: (o forte permanece em mãos holandesas) (março 1672 – julho 1672).
  • Inglês: 8 de janeiro de 1782 – 28 de agosto 1782.
  • Francês: 28 de agosto 1782-1783.
  • Holandês: 1783 – 26 de agosto de 1795 (Fort Oostenburg: 31 de agosto de 1795).
  • Inglês: 26 de agosto de 1795 (Fort Oostenburg: 31 de agosto de 1795).

Para ser continuado por: Bibliografia

Portão principal, Fort Fredrick, Trincomalee, Sri Lanka. Autor Bel Adone. No Copyright
Portão principal, Fort Fredrick, Trincomalee, Sri Lanka. Autor Bel Adone

NOTAS:

1 “Governor van de Graaf’s memorial to his successor Governor J.G. van Angelbeck, 1794”, in: “Ceylon Literary Register”, p. 809.

2 “The Turnour manuscript, 1795”, in: “Historical manuscripts commission, Ceylon”, n° 1 May, 1937, pp. 16-19 and also Colin-Thome “Governor van Angelbeek and the capitulation of the Dutch settlements in Ceylon to the British, 1796”, in: JDBUC, vol. LIX, n°1-4, 1981, pp. 23-55.

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Trincomalee: A consolidação da presença neerlandesa

Escrito por Marco Ramerini. Tradução feita por João Bergmann

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7.0 A CONSOLIDAÇÃO DA PRESENÇA NEERLANDESA

Este período de instabilidade resultou num grande decréscimo no volume do comércio em trânsito desde Trincomalee. Os números sobre este decréscimo são discrepantes, mas aparentemente nos primeiros dez anos de ocupação holandesa o comércio de roupas havia declinado de 480 mil florins holandeses quando Kottiyar estava sob domínio kandyano para 5.342 florins em 1681. A estimativa do comércio kandyano é também certamente exagerada de acordo com S. Arasaratnam, mas mesmo assim o contraste entre as duas cifras é impressionante. O reino de Kandy encontrava-se com todos os seus portos sob domínio holandês. Trincomalee, Batticaloa e Kottiyar estavam nas mãos dos holandeses, enquanto Puttalam, situado na costa oeste, era facilmente controlado pelo forte holandês de Kalpitiya. Os distritos de Trincomalee, Batticaloa e Kottiyar eram muito importantes do ponto de vista das produções agrícolas, particularmente o arroz. Além de ser auto-suficiente para a manutenção da população local e das guarnições holandesas, os produtos agrícolas eram exportados e serviam também para sustentar a cidade de Colombo.1

Do ponto de vista administrativo, a costa leste foi inicialmente colocada sob a jurisdição do comandante de Jaffna. Em 1671, porém, os holandeses instituíram um novo comando que compreendia toda a costa leste, cuja capital era Batticaloa e que incluía Trincomalee. Tal província foi abolida poucos anos mais tarde e toda a costa leste voltou a ser administrada por Jaffna. Em Trincomalee residia um “Opperhoofd”2, o qual com a ajuda de um conselho governava a cidade e vizinhanças, ficando sob a administração de Jaffna.3 No que concerne à administração da justiça no período VOC, Trincomalee era sede de um tribunal (“Landraad”). Tudo indica que os holandeses estabeleceram em Trincomalee, na segunda metade do século XVIII, uma Tribunal Superior (“Raad van Justitie”), o qual, todavia, dependia de Colombo para as causas mais importantes.4

Após a expulsão dos franceses, o forte de Trincomalee era equipado com cem peças de artilharia e uma guarnição de 350 soldados.5 Em agosto de 1696 havia nos dois fortes (Batticaloa e Trincomalee) 236 homens. Também faziam parte da força holandesa três chalupas ancoradas em Trincomalee.6 Em 1716, o forte de Trincomalee foi considerado pelo governador Becker em suficiente situação de defesa, muito embora algumas obras defensivas estivessem longe de estar concluídas. Para melhor defender a baía de Trincomalee depois do episódio francês, foi decidida a construção de outro forte além do já existente (Pagoodsberg). Neste segundo forte havia 32 peças de artilharia e 30 soldados.7 Este novo forte foi construído poucos anos após a expulsão dos franceses, num morro a leste da entrada da baía interior, para que pudesse melhor proteger o local em caso de ataques. O forte foi chamado de Oostenburg. No mesmo ano de 1716, ainda segundo as memórias do governador Becker, o forte Oostenburg é descrito como uma pequena fortaleza de pedra, situada numa elevação a leste da entrada da baía interior, cuja finalidade era a defesa do acesso à baía.8 Para evitar que forças inimigas entrassem na baía, foi construído um dique fortificado (waterpaas) no lado oeste da entrada da baía. Na ilha Dwars-in-de-weg foi instalada uma bateria de canhões. Além disso, havia outras duas fortificações no outro lado da baía (Koddiyar). Estas fortificações possuíam uma guarnição de 30 soldados e 16 canhões cada uma. No lado sul da baía Velos havia duas paliçadas, em Cuchar e Arsalari, utilizadas para fins de taxação, cada uma delas com 16 canhões e 40 soldados.9 Perto de Trincomalee, em Erekelenchene (a pouco mais de um quilômetro de Kottiyar e cerca de um quilômetro e meio ao sul da baía de Trincomalee) , os holandeses tinham construído uma trincheira.10

Em 1696, devido ao estado crítico do comércio ao longo da costa leste e face aos veementes protestos kandyanos, os holandeses decidiram reabrir ao livre comércio os portos de Kottiyar e Batticaloa, o que levou a um benefício imediato nas relações com Kandy, havendo também um evidente incremento no volume de tráfico comercial passando pelos portos acima mencionados. Kottiyar e Batticaloa voltaram a ser, juntamente com Puttalam na costa oeste, as portas de Kandy para o exterior. Infelizmente para os kandyanos, o desenvolvimento destes portos prejudicou bastante aqueles controlados diretamente pela companhia holandesa, e isto não seria admitido pelos holandeses. Assim sendo, já em 1703 a VOC decidiu fechar outra vez aqueles portos ao comércio exterior.

Após a derrota dos portugueses, a Igreja Católica foi forçada a abandonar à própria sorte os milhares de católicos convertidos, e no final do século XVII iniciou um novo apostolado no Ceilão, a partir dos frades oradores de Goa e, principalmente, graças à missão do frei João Vaz, conhecido como o Apóstolo do Ceilão. Por volta de 1695 e depois em 1710, Trincomalee foi visitada duas vezes pelo frei João Vaz. Este fundou diversas capelas na região, assim como administrou os sacramentos à comunidade católica. Além de Trincomalee, ele também esteve em Batticaloa e Kottiyar. Em carta datada de 169711, ele indicou em Kottiyar o local onde havia uma capela e uma comunidade de cem cristãos. A partir do começo do século XVIII, com regularidade incerta, foram enviados frades às regiões de Trincomalee e Kottiyar. Em 1714, outro frade, Miguel Francisco, visitou os cristãos de Trincomalee. Em 1728, ainda outro frade, João de Sá, conseguiu chegar a Trincomalee e Kottiyar apesar da vigilância dos holandeses.12 Nos anos seguintes, os contatos entre os religiosos e a população católica no distrito de Trincomalee se multiplicaram: o frade Joseph Pereira por lá esteve em 1733 – 1734, enquanto os frades Custódio Leytão, Francisco de Monroy e João da Silveira são apenas alguns dos religiosos que visitaram ou trabalharam na região de Trincomalee entre os anos de 1733 e 1762.13

O fechamento dos portos ao comércio direto com Kandy favoreceu o desenvolvimento do contrabando, o qual interessava especialmente à costa leste da ilha, aquele onde os holandeses exerciam um controle menos severo. O comércio ilegal acontecia principalmente através de três portos: Alembiel (Alampil), Chialwatte e Moletivo (Mullaitivu). A fim de estancar este tipo de comércio, foi determinado que, na mudança da monção, algumas chalupas provenientes de Jaffna navegariam pelas águas daquelas baías. Em Mullaitivu, uma baía situada a meio caminho entre Jaffna e Trincomalee, os holandeses construíram em 1715 uma pequena fortificação (tratava-se de uma pequena estrutura de madeira com paliçadas e terra), para evitar que os wannias, os mercadores muçulmanos e os chetties utilizassem aquela baía para o contrabando com Kandy. Na fortificação havia 24 soldados europeus, um alferes e dois sargentos, além de 20 lascarinos e seu comandante.14

Durante o período holandês um caminho ruim ligava Trincomalee a Jaffna, passando por Mullaitivu. Em 1749, o assentamento holandês de Tambalagama, perto de Trincomalee, foi atacado e queimado pelos kandyanos. Subseqüentemente, em 1751, os kandyanos tentaram também bloquear o comércio para Koddiyar e Tambalagama.

De acordo com o que Jan Schreuder escreveu em suas memórias, na baía de Trincomalee localizava-se um pequeno banco de pérolas, mas a renda da região provinha principalmente do arrack (uma bebida alcoólica), dos direitos de alfândega e do jardim cultivado pela companhia.15 Em suas memórias Schreuder descreveu ainda o estado das fortificações de Trincomalee: a vala do forte ainda não havia sido concluída e, devido à falta de mão-de-obra, o waterpas sob o forte de Ostenburg, assim como o forte em si, também não tinhamsido acabados.16

A partir de 1760, os ingleses freqüentemente utilizavam a baía de Trincomalee como local de ancoragem para suas próprias embarcações. Na época (1762), um enviado inglês, John Pybus, desembarcou em Kottiyar e chegou a Kandy. Esta intrusão inglesa perturbou os holandeses, que haviam declarado guerra a Kandy, pois estes temiam uma aliança entre a Inglaterra e Kandy.

Durante a guerra contra Kandy (1761 – 1766), os holandeses usavam Trincomalee como base para as incursões ao território kandyano. Em 1763, os territórios sob controle holandês estendiam-se no interior até Minneriya e Madavacchiya. Além disso, tropas holandesas de Trincomalee conseguiram ocupar Matale. Em virtude do tratado de paz de 1766, as terras de Tamblagam, Kottiyar e Kattekolapattu tornaram-se possessões holandesas. Também a área controlada pelos holandeses que incluía Batticaloa estendeu-se consideravelmente; os holandeses tomaram posse de importantes distritos agrícolas (onde o principal produto era o arroz) na área de Trincomalee e Batticaloa. O tratado de paz levou o controle holandês ainda mais longe, ao longo de toda a região costeira da ilha, resultando que Kandy encontrou-se sem uma saída para o mar, cercada pelo território da companhia. Com este tratado os holandeses controlavam totalmente o comércio kandyano, assim como as relações externas do reino de Kandy. Como se isto não bastasse, Kandy dependia da companhia para seus suprimentos essenciais de sal e peixe seco. O território ao redor de Batticaloa, que havia sido controlado pelo reino de Kandy até 1763 – 1766, era de grande importância para a subsistência do reino. Na verdade, as férteis planícies da província de Batticaloa eram conhecidas como o celeiro de Kandy. A perda do controle destas imensas planícies cultivadas aconteceu em definitivo com o tratado de 1766, o qual causou um marcante empobrecimento do reino de Kandy. Durante a guerra contra Kandy, a consistência das guarnições holandesas na ilha aumentou consideravelmente, o mesmo acontecendo com os dois principais fortes da costa leste, Trincomalee e Batticaloa. Em 1764, ambos tinham em conjunto uma guarnição de 881 soldados, dos quais 448 eram europeus, 228 orientais e 205 sepoys.17

Após a conquista dos novos territórios agrícolas na vizinhança de Trincomalee, os holandeses pensaram em restaurar os velhos reservatórios de Kantalai e Vendarasen Kulam, para novamente poder desenvolver as potencialidades agrícolas do distrito. Com o mesmo propósito, um mapa da província de Tamblegam foi feito em 1793 pelo agrimensor Struys e pelo engenheiro Fornbauer, sendo este o último comandante holandês de Trincomalee.18

Em 1777, o rei de Kandy, Kirti Sri Rajasinha, iniciou novas negociações com os franceses. Ele entrou em contato com o governador francês de Pondicherry oferecendo as baías de Trincomalee e Batticaloa em troca de ajuda francesa para expulsar os holandeses da ilha. Os franceses consideraram seriamente a oferta, mas a eclosão da guerra entre a Grã-Bretanha e a Holanda, com a França aliando-se aos holandeses, pôs um fim às negociações.

Continua: A primeira ocupação inglês ea rendição definitiva holandês

Fort Oostenburg (1726), Trincomalee, Sri Lanka. Autor Valentijn 1726c
Fort Oostenburg (1726), Trincomalee, Sri Lanka. Autor Valentijn 1726c

NOTAS:

1 “Memoirs left by Riclof van Goens, Jun. 1675-1679”. pág. 5.

2 Oficial europeu no comando de um pequeno distrito.

3 “History of Sri Lanka”, vol. II, págs. 346-347.

4 “History of Sri Lanka”, vol. II, págs. 356-374.

5 Queyroz “The temporal and spiritual…”, vol. III, pág. 1196.

6 “Memoir of Thomas van Rhee, 1697”, págs. 52-53.

7 Queyroz “The temporal and spiritual…”, vol. III, pág. 1196.

8 “Memoir of Becker, 1716”, págs. 26-27.

9 Queyroz “The temporal and spiritual…”, vol. III, pág. 1196.

10 Um mapa holandês é testemunha disso, o mesmo se encontra no Rijkscarchief Eerste Gedeelte, em Haia.

11 Perniola “The Catholic Church in Sri Lanka: the Dutch period, 1658-1711”, vol. I pág.122.

12 Vedi Boudens “The catholic Church in Ceylon under Dutch rule”, págs. 89-131.

13 Vedi Boudens “The catholic Church in Ceylon under Dutch rule”, págs. 132-157.

14 “Memoir of Becker, 1716”, pág. 17.

15 Schreuder, J. “Memoir of Jan Schreuder”, pág. 89.

16 Schreuder, J. “Memoir of Jan Schreuder”, págs. 91.

17 Raven-Hart “The Dutch wars with Kandy, 1764-1766”, págs. 56.

18 Brohier “Land, maps and surveys”, págs. 135-136; Brohier “Links between Sri Lanka and The Netherlands”, pág. 128.

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Trincomalee: A tentativa francesa

Escrito por Marco Ramerini. Tradução feita por João Bergmann

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6.0 A TENTATIVA FRANCESA

Um novo perigo ameaçava as possessões holandesas no Ceilão, e ele se materializou em março de 1672, na forma de uma grande frota francesa, sob o comando do almirante De La Haye. No período de 1665 a 1670, guiados por Colbert e com a ajuda de François Caron, um homem de grande experiência e ex-diretor geral da VOC na Ásia, os franceses haviam desenvolvido um plano de expansão para o continente asiático à custa dos holandeses. Deste plano constava a fundação de um importante posto comercial em Trincomalee.

A frota francesa, comandada pelo tenente-general da Índia, Jacob Plaquet de la Haye, lançou velas do porto francês de Rochefort em 29 de março de 1670, e era composta por nove navios, levando a bordo 2250 homens e 251 canhões. Ao chegar à baía de Trincomalee em 22 de março de 1672, a esquadra francesa representava um enorme poderio naval para os mares da Índia.

Em março de 1672, quando da chegada da frota francesa de De La Haye e Caron, os holandeses abandonaram e queimaram seu posto avançado na baía de Kottiyar, cuja guarnição procurou abrigo no forte de Trincomalee. Os holandeses abandonaram 21 canhões no forte destruído. A guarnição holandesa de Trincomalee foi forçada a se defender e permaneceu dentro das muralhas do forte para observar a movimentação dos franceses.

Os franceses escolheram a formosa baía de Trincomalee / Kottiyar como base de suas futuras operações na Ásia. Sob o olhar dos holandeses, protegidos em seu forte de Pagoodsberg, os franceses ocuparam e fortificaram as duas ilhas situadas na entrada da baía: a que eles chamavam de “Isle Du Soleil” (“Dwars-in-de-weg”, ou Ilha do Sol) e a denominada “Caron” (“Compagnies Eyland”), ocupando ainda o posto avançado da baía de Koddiyar. O oficial Boisfontaine, com 30 soldados, foi enviado em seguida à corte de Kandy, na qualidade de embaixador francês. Ele foi bem recebido pelo rei, que desejava poder expulsar os holandeses da ilha, com os quais estava em guerra.

No dia 28 de maio de 1672 os franceses assinaram um tratado com Raja Sinha, através do qual as baías de Trincomalee e Kottiyar eram cedidas pelos cingaleses aos franceses. Na ocasião foram erigidos alguns pilares para delimitar os limites do território cedido. O principal problema para a grande frota francesa era o fornecimento de alimentos. Assim que os franceses se deram conta de que a comida proveniente de Kandy não era suficiente para alimentar um exército tão grande, três navios foram enviados à Índia à procura de suprimentos para solucionar o problema. Poucos dias depois da assinatura do tratado com os cingaleses, a frota holandesa de Van Goens chegou à baía. Com um desembarque em Tambalagama, os holandeses inicialmente tentaram bloquear a linha de suprimentos que vinham do interior para os franceses, mas um ataque imediato das tropas kandyanas forçou Van Goens a retirar seus homens para os navios. Os kandyanos pediram ajuda aos franceses para combater os holandeses conjuntamente, mas aqueles se recusaram, já que estavam formalmente em paz com a Holanda. Esta recusa esfriou bastante o entusiasmo dos cingaleses em relação à expedição francesa.

Os holandeses, porém, desconsideraram a paz com os franceses, e na primeira oportunidade que surgiu, ele atacaram e conseguiram capturar dois dos navios que os franceses haviam enviado à Índia em busca de alimentos, sendo que o terceiro navio foi forçado a retornar. Para as tropas francesas, a situação ficava cada vez mais dramática. Apesar da ajuda de Raja Sinha, doenças e a falta de comida provocaram muitas mortes entre os franceses. Em 9 de julho de 1672, o almirante De La Haye, após ter enviado outro embaixador (De La Nerolle) à corte de Kandy, decidiu partir com toda a frota em busca de socorro, deixando na fortificação da baía uma guarnição de cem homens e dois barcos. Os holandeses não perderam tempo, atacando a guarnição e fazendo com que os franceses entrincheirados no forte se rendessem. Um numeroso contingente de tropas kandyanas chegou a Trincomalee poucos dias depois da partida da frota francesa, mas já era tarde demais. O curto período francês estava encerrado, juntamente com as esperanças kandyanas de expulsar os holandeses da ilha.1

Continua: A consolidação da presença holandesa

Plano de Fort Trincomalee, feita pelo Chevalier de Suffren em agosto 1782
Plano de Fort Trincomalee, feita pelo Chevalier de Suffren em agosto 1782

NOTAS:

1 Em relação ao episódio francês, pode-se consultar: Ames, G. J. “A Portuguese perspective on the emerging French presence in the East ca. 1670”, in: “Studia”, n° 46/1987, págs. 254-286; “History of Sri Lanka”, vol. II, págs. 223-225; Arasaratnam “Dutch power in Ceylon, 1658-1687”, págs. 62-63.

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Trincomalee: A nova ocupação neerlandesa e a reconstrução do forte

Escrito por Marco Ramerini. Tradução feita por João Bergmann

Atrás: A conquista neerlandesa eo abandono do forte

5.0 A NOVA OCUPAÇÃO NEERLANDESA E A RECONSTRUÇÃO DO FORTE

Durante os anos, que se seguiram, os neerlandeses aparentemente mantiveram apenas um pequeno posto-avançado na baía de Kottiyar1, mas isso não é fato comprovado. O que realmente se sabe é que em 1660 os holandeses enviaram uma expedição sob o comando de van Rhee e Wasch com o propósito de ocupar novamente Trincomalee, a fim de evitar contatos entre o rei de Kandy e os ingleses, os quais, ao que parece, tinham intenção de estabelecer um pequeno posto-avançado em Kottiyar. A reação do rei de Kandy foi oportuna, e este imediatamente enviou um numeroso exército para não permitir que os holandeses atingissem o seu propósito. Ele foi bem sucedido e os holandeses tiveram que retroceder.2

Naquela ocasião, tendo expulsado os portugueses do Ceilão, após a queda de Jaffna em 1658, os holandeses estavam novamente interessados em Trincomalee, quando ocorreu uma rebelião na corte kandyana em 1664. Quando isto aconteceu, Raja Sinha pediu ajuda aos holandeses para patrulhar a costa leste da ilha, a fim de evitar a fuga dos rebeldes, os quais ele temia que pudessem receber ajuda ou fugir por um dos portos da costa leste. Em setembro de 1665, os holandeses, tendo recebido notícias que indicavam que um navio inglês havia chegado à baía de Trincomalee e estabelecido, através de um embaixador, contatos com o rei de Kandy, decidiram que, além de patrulhar a costa leste, havia a necessidade de tomar Trincomalee outra vez. Com este propósito, foi enviada uma expedição com dois navios e cem soldados sob o comando do capitão Pierre Du Pon. As tropas reconstruíram o forte no local onde ainda havia ruínas do velho forte português.3

A nova fortaleza de Trincomalee foi equipada com 4 bastiões principais (denominados de Zeeburg, Amsterdam, Enkhuizen e Holland). Destes, Zeeburg e Amsterdam eram protegidos por uma trincheira que dividia a península em duas partes e isolava o forte do resto da cidade. Zeeburg era o maior dos dois, ficando também mais ao norte que os outros, situado na baía Back. Ao longo da mesma baía ficava a plataforma de armas denominada Cat, sendo que uma muralha ligava esta plataforma ao bastião Zeeburg, havendo uma pequena entrada no ponto central da muralha. O bastião Amsterdam era o que ficava situado mais ao sul, ficando de frente para a baía Dutch, assim como os outros dois bastiões, Enkhuizen e Holland. Estes dois eram conectados ao Amsterdam através de uma muralha. A meio caminho aproximadamente entre os bastiões Amsterdam e Enkhuizen ficava a entrada principal do forte.4

Em 1668 as fortificações de Kottiyar e Batticaloa também foram retomadas e incrementadas. Em 1670, Pieter de Graauw, então no comando de uma companhia de tropas holandesas, através de acordos de proteção e vassalagem com alguns chefes da costa leste, estendeu o controle holandês para grande parte daquela região5, mas tal domínio teve curta duração. Na verdade, poucos meses mais tarde, em agosto de 1670, devido a um ataque maciço do rei de Kandy à toda a costa leste, os holandeses foram obrigados a buscar refúgio em seus fortes de Trincomalee e Batticaloa.6 Em Trincomalee, os holandeses perderam 24 soldados e 22 lascarinos em confronto com os kandyanos.7

Continua: A tentativa francesa

Fort Fredrick, Trincomalee, Sri Lanka. Autor Bel Adone. No Copyright
Fort Fredrick, Trincomalee, Sri Lanka. Autor Bel Adone

NOTAS:

1 Nelson “The Dutch forts of Sri Lanka”, (1) pág. 117.

2 Arasaratnam “Dutch power in Ceylon, 1658-1687”, (2) págs. 18-19.

3 Herport “A Short description…”, (3) publicado em: Raven-Hart “Germans in Dutch Ceylon”, vol. I, pág. 34.

Também Baldeus escreveu sobre o capitão Peter du Pon e sua expedição a Trincomalee. Baldeus “A description of East India …”, pág. 819; Arasaratnam “Dutch power in Ceylon, 1658-1687”, pág. 33.

4 Nelson “The Dutch forts of Sri Lanka”, págs. 124-131.

5 (5) Ao sul de Batticaloa, no mesmo período, os holandeses construíram diversos postos avançados fortificados em Panama, Yala e Magama. Em Chinnecallette Delle (a aproximadamente 7 ou 8 quilômetros ao sul do rio de Batticaloa), os holandeses também construíram um entrincheiramento..

6 “History of Sri Lanka”, vol. II, pág. 215-219; Arasaratnam “Dutch power in Ceylon, 1658-1687”, págs. 42-43.

7 “Heer van Rheede: report on Ceylon, 1677”.